A classe média tradicional no Brasil teme a ascensão dos que estão embaixo por temer que tomem seu lugar e toquem em seus privilégios. Comuníssimo tratá-los com um se é pobre, é por burrice ou preguiça.
As mudanças sociais que aconteceram nos últimos 13 anos geraram uma série de ressentimentos numa sociedade extremamente conservadora, em que a desigualdade foi sempre cuidadosamente escondida e a ciência nunca a colocou no centro das preocupações. Escola e universidade não a tematizam, tornando invisíveis as causas da desigualdade.
A classe média tradicional é cega e omissa em relação à sua cota na perversidade, na maldade, na exploração dos mais pobres, se irritando com qualquer ajuda efetiva para as classes populares, como o Bolsa Família, por entender que estimula a vagabundagem e deseduca.
Julga-se a guardiã da moralidade, detentora de um culturalismo que idealiza os Estados Unidos, no qual o Estado é privativo em elevado grau e segue os interesses das grandes empresas, enquanto para o Brasil reserva sempre uma palavra negativa, confundindo comunismo com colocar o Estado a serviço da maioria – a láurea do analfabetismo político.
E quando se trata de recursos usados para promover a ascensão das camadas mais pobres, só se lembra na História republicana do governo de Getúlio Vargas e da era Lula e Dilma, restando à classe média tradicional, em ambos os casos, apelar para o golpismo, de modo a pôr um fim na desonestidade que creditam a regimes populistas. Não que não exista corrupção em seus candidatos defensores do Estado mínimo, quando eleitos, só que não é investigada ou é abafada ou mesmo escamoteada pela imprensa, sob o argumento de que ninguém aguenta mais o povo no poder.
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