O ano de 2016 foi feito para se esquecer. Uma crise institucional se seguiu ao golpe parlamentar-jurídico para depor a presidenta Dilma. Ninguém respeita mais ninguém. O caos se estabeleceu. A quadrilha do Temer foi alçada ao poder presidencial e o juiz Moro só tem olhos para acabar com a corrupção no país nem que tenha de destruí-lo. O Supremo Tribunal Federal está em litígio com o Poder Legislativo. O presidente do Senado não é preso porque a Justiça é lenta. Não se deseja convocar eleições diretas para aparar as arestas da situação artificialmente criada para pretextar o golpe. Os militares chamam de loucos os que desejam uma nova ditadura a exemplo de 1964. Pastores são eleitos negando que confundem religião com política. Os governos petistas são tachados de corruptos e seu ex-presidente é alvo de uma perseguição sem paralelo na História política do Brasil, mas tucanos de alta plumagem são denunciados e sequer investigados, quando não é abafado o caso – mas quem foi que disse que o Brasil é um país justo?
Na disputa pelo título sul-americano de clubes, o time da Chapecoense foi abatido no ar, por motivo de ganância, pelo próprio piloto e dono do jato fretado pelo clube. O celebrado ator Domingos Montagner morreu durante a novela “Velho Chico” de afogamento no rio em que se banhava e contracenava – ficção ou vida real? Trump se elegeu presidente norte-americano e seu eleitor entrou em ferrenha disputa com o nosso, quando apoiou o golpe, e com o britânico, quando votou em favor de sair da comunidade europeia e tornar ao isolacionismo – quem foi mais longe ao não medir as consequências? O Estado Islâmico continuou sua saga de eliminar quem não pensa igual a eles.
Mais algum outro motivo para comemorar o ano que morreu? Como iremos mudar de ano para tudo continuar na mesma, que tal beber muito para esquecer? Mas se for para cair no vazio, o tombo irá ser grande. Machucado restará. Cicatrizes advirão de uma aventura farsesca. E aventuras não resistem ao desfolhar do calendário. Fenecem diante de sua falta de consistência atestada por não resistir à realidade brutal dos fatos, que as consomem a ponto de silenciar a indignação seletiva de seus mais veementes defensores, cuja maior parte ficou sem emprego, sem clientela ou mesmo faliram e empobreceram, face à fomentada crise econômica golpista.
Cruzaremos o umbral de 2017 sem graça por não ter o que dizer, sem um sorriso no rosto, com os olhos perdidos no horizonte, numa catatonia sem fim. Sem poder olhar para trás sob pena de se transformar numa estátua de sal como a esposa de Ló quando em rota de fuga de Sodoma, cidade cuja extrema perversidade obrigou Deus a tirá-la do mapa, petrificando quem quisesse gravar em sua retina o desenrolar da ira divina.
A maldição do impeachment em acirrada disputa com o saudar esperançoso e alienado de Feliz Ano-Novo.
Deixe um comentário