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CAPÍTULO XXXVI – NÃO SEJA IMPERMEÁVEL

A intervenção espiritual e o rumo que tomei quando “tudo começou depois do câncer” deu margem a receber essa mensagem: “Estou frágil e quero te pedir, dentro das suas crenças, que infelizmente não as tenho, para que peças por mim”. Finalizado um procedimento cirúrgico para aliviar dores lancinantes decorrentes de vértebras comprimidas que se moveram em função de uma escoliose em “S”, minha amiga entrou em processo de angústia, sentindo-se sufocada, sem conseguir respirar, quando se viu fora do corpo sob os efeitos da experiência extracorpórea, sentindo o espírito fluir de dentro de si, implorando para a enfermeira segurar sua mão e não largar. O pânico de morrer lhe deu a sensação iminente de estar a caminho de ir embora desse mundo e não poder voltar atrás, fazendo com que, depois que tudo se acalmou, preferisse as dores a entrar em contato com uma fenomenologia que não pode ser tratada por um psiquiatra ou com o remédio Frontal, exclusivamente – dores que não lhe permitiam sequer encontrar uma posição confortável. Ela optou pelo enigma absoluto, para que saber de tudo? Se não tem elementos concretos para lidar com isso. Quer aprender a conviver com o seu não saber em detrimento de sua curiosidade, que sempre foi atuante, tornando-se impermeável.

A trigésima sexta intervenção espiritual, em 28 de abril de 2017, se iniciou com cânticos no intuito de abrir caminho para os espíritos curadores, prosseguindo com a leitura e comentários sobre o item 15 (“O perdão das ofensas”) do capítulo 10 (“Bem-aventurados os que são misericordiosos”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Como ser duro, exigente, rigoroso com os que mentiram para si mesmos por meio de um discurso impregnado de moral e exacerbado de referência aos bons costumes? Sentenciando de forma inflexível que “Eu nunca os perdoarei”? Mas, se a cada dia, também tendes mais necessidade de perdão! Quem sabe se, nessa luta que começou por uma simples bagatela e terminou por uma ruptura, uma palavra ofensiva não escapou de vós ou não usastes de toda a moderação necessária? Quem garante que não transformastes em disputa séria o que poderia ter caído facilmente no esquecimento? Se depender de vós impedir as consequências e não o fizerdes, sereis sem dúvida o culpado. Mesmo não havendo censura a vos fazer, quanto mais clementes fordes, maior será o vosso mérito não sendo impermeável. Ignóbil perdoar da boca para fora e interiormente experimentar um secreto prazer pelo mal que acontece a outrem, sublinhando com eles bem o merecem. O rancor é sempre um sinal de baixeza e de inferioridade. O fundo de vossos corações e os mais recônditos pensamentos serão sondados se não lançardes um véu sobre o passado. Atos falam mais do que as palavras.

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Antonio Carlos Gaio
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