Há quem compare o novo filme de Roman Polanski com o linchamento virtual que ele tem sofrido mundo afora do movimento Me Too e congêneres por causa das acusações de estupro (pelo menos uma comprovada) que pesam sobre ele. O capitão do exército francês Alfred Dreyfus foi objeto de antissemitismo e vítima de uma condenação injusta, baseada em falsas provas ao ter passado segredos militares franceses aos alemães. Aborda o que estamos vendo à volta de nossa realidade: a cultura do ódio, a discriminação, a intolerância, perseguição, paranoia, a exaltação de valores morais conservadores, o patriotismo de araque e o governo agindo a serviço de seus próprios interesses. Polanski foi um judeu caçado durante a guerra pelos nazistas e um cineasta perseguido pelos stalinistas na Polônia. O cineasta de 86 anos, que realizou os clássicos “O bebê de Rosemary”, “Chinatown” e “O pianista”, emplacou um novo sucesso como o melhor diretor do César (Oscar francês) de 2020, além de melhor adaptação e figurino, ao mesmo tempo que feministas invadiam ou bloqueavam vários cinemas protestando contra a aclamação a “um abusador e estuprador em fuga”. O que está em foco é a obra de arte de Polanski e, sem dúvida, ele soube separar a obra dos problemas que estão desabando sobre sua cabeça. Se ele, como ser humano, deveria ceder sua cabeça à degola e sepultar o diretor de cinema, cuja carreira já equivale a uma das maiores da história da cinematografia, convenhamos, seria uma imolação ou suicídio.
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