É preciso muita atenção para não se descuidar das condições em que irá encerrar sua encarnação. Caso contrário, poderá pôr toda a sua existência a perder.
Aos 79 anos, Coaracy Nunes foi preso pela Polícia Federal por 3 meses, no curso das investigações sobre fraude em licitações e superfaturamento na compra de passagens, hospedagens e traslados durante torneios e treinamentos dentro e fora do país, bem como o absurdo de ter se apropriado da premiação de atletas. Aos 81 anos, foi condenado a cumprir pena de 11 anos e cinco meses de reclusão, além de 3 anos e seis meses de detenção por fraudes na gestão de recursos financeiros da entidade que dirigia. Seus advogados recorreram e ele não chegou a voltar à prisão.
Pois morreu em 2020, aos 82 anos, vítima de complicações de seu frágil estado de saúde. Havia pego o coronavírus, mas lutava contra o mal de Alzheimer, demência senil, diabetes e hidrocefalia, não resistindo ao quadro terminal.
Conhecido como mão de ferro, ele despontou como diretor de esportes olímpicos do Fluminense, na época das vacas magras, do dinheiro curto no chamado esporte amador. Posteriormente, o dirigente de maior prestígio na história dos desportos aquáticos, durante 30 anos, presidiu a conquista de dez medalhas olímpicas, no considerado período de ouro da natação.
Não resistiu à tentação fácil e ao êxtase do poder, embora tenha realizado um trabalho meritório nadando às braçadas, talvez para justificar o quanto se empenhou quando trabalhou de graça em prol da natação e do water polo. Durante as competições, chegava a cobrar dos entusiastas desses esportes maior comedimento e educação, em virtude de piscina não ser estádio de futebol.
Ao transitar do amadorismo para o semiprofissionalismo, quem perdeu a compostura foi Coaracy, presa fácil do amadorismo marrom que transitou para as mordomias que começaram a embalar os esportes olímpicos, na esteira da valorização dos Jogos Olímpicos. Daí foi um pulo para as negociatas, subornos, propinas e compra de votos, capitaneando as eleições de federações desportivas, ingredientes de uma época que representavam a escalada para o sucesso e que igualmente viriam sacrificar o maior prócer esportivo de todos os tempos no Brasil: João Havelange. Caído também em desgraça, quando morreu afogado em corrupção, em 2016, atingido pela mesma cobiça e fascínio pelo poder, vindo a macular a carreira de um dirigente considerado um dos três melhores do século XX, à frente do futebol tricampeão do mundo e da Fifa.
Portanto, todo cuidado é pouco para não se perder no terço final da vida e invalidar sua encarnação, vivida a muito custo. As dificuldades aparecem de supetão como se representassem um castigo às suas falhas morais, sob forma de doenças, mal se movendo, necessitando de uma babá. Seguido de abatimento, depressão e aflição com o fim que está reservado a quem já foi tão famoso.
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