Com 46 anos, Bárbara Paz já deformou o rosto em acidente de automóvel, levando 400 pontos, venceu um reality show do SBT, no qual namorou o roqueiro Supla, se relacionou com o ator Dalton Vigh, foi eleita a melhor atriz no curta-metragem ‘Produtos Descartáveis” no 31º Festival de Gramado, posou nua e foi capa da revista Playboy, exibindo um extenso currículo como atriz de teatro e global, quando se enroscou com o famoso cineasta argentino-brasileiro Hector Babenco, com quem namorou por 4 anos, viveu junto, posteriormente se casando, durando 4 anos, se separou, para depois ambos tornarem ao caso antigo, faltando dois anos para ele, de 70 anos, morrer de um câncer em 2016, que foi degringolando até o coração parar. Talvez o câncer os tenha reatado a fim de permitir construir a dois o documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou”, em inglês, “Avise-me quando eu for morrer”. A estreia na direção de longa-metragem de Bárbara Paz, conquistando o prêmio de melhor documentário no Festival de Veneza e o prêmio da crítica independente, arrebatando também a láurea em Guangzhou/China, Mumbai/Índia e Viña del Mar/Chile, e acabando por ser escolhido para representar o Brasil no Oscar de melhor filme internacional (estrangeiro) em sua 93ª edição, disputando com 19 concorrentes em nosso país. Confesso que fiquei desconfiado do filme tender para a biografia convencional e cronológica, mas é cinema com C maiúsculo. Inédito, original, tocante e comovente sobre os últimos momentos da morte de Hector Babenco. Não me lembro de ter visto algo igual no gênero em abordagem artística tão surpreendente quanto espetacular, na qual a biografia se esvanece na arte da realização, a ponto de Babenco tê-la levado consigo na grande viagem que empreendeu. Seja em suas origens em Mar del Plata, em sua carreira internacional e em filmes de maior sucesso, como “Lúcio Flávio”, “Pixote”, “O beijo da mulher aranha” (candidato a Oscar como melhor diretor) e “Carandiru”, o mais impactante do filme foi assistir Bárbara Paz cantando e dançando Singing in the Rain numa paródia hilariante e soberba à la Gene Kelly, chovendo a cântaros no cenário de uma praia. Ficou patente o tremendo ego de Babenco, do grande realizador e conhecedor profundo do cinema, mas que se incorporou à numerosa horda de seres humanos que brigam com a chegada da Morte para manter-se vivo por mais tempo. Curioso, quando garoto, queria ficar doente para poder permanecer lendo, não precisando brincar tanto quanto os outros. Parece que isso não lhe proporcionou animadores augúrios, apesar de ter se tornado um puta intelectual a serviço do cinema, que concluiu sua vida passando-a a limpo na sétima arte. Um presente de Deus para Bárbara Paz, em todos os sentidos que se quiser examinar.
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