O amor não morre de uma hora para outra. Primeiro, ele se cansa. Inúmeras vezes! Depois se refugia em algum desvão da alma tentando se esconder do tédio no qual a repetição incessante de maus hábitos costuma matar os relacionamentos. Fazendo desaparecer a musicalidade que deve reger o sentimento. O fato de não haver mais como surpreender o seu par costuma matar o amor. Não haver mais mistérios é letal para o amor.
No entanto, não cabe confundir fadiga com desamor. Cansar de sempre fazer as mesmas coisas, repisar os mesmos carinhos, utilizar as mesmas palavras, sujeitas a eco, ir aos mesmos lugares, não mudar nunca, isso até segue uma tendência natural quando acontece. Agora, se começar a rarear a magia, o amor for perdendo o seu encanto, o sabor do beijo ir se despedindo, o casal não mais transcender e o inesperado não mais se fazer presente, tudo isso demonstra em que consiste essa tão estranha palavra desamor.
Como não há mais nada a conquistar, muitos se acomodam e outros se encaminham para aventuras, querendo, a todo custo, se redescobrir vivos, procurando reencontrar o que julgavam perdido: o prazer do arrebatamento, o susto do coração bater aceleradamente diante de alguém e o sono perdido em sonhos intermináveis, sem saber se despertos ou dormindo, onde os desejos borbulham efervescentes, a comprovar sua razão de ser.
É possível uma vida sem amor? Ou com amor adormecido? Ou, esgotadas certas etapas, permitir que o amor durma? Enquanto você está acordado sem saber o que fazer da vida. Há que despertar o amor antes que seja tarde? O homem se autoindaga. Reconquistar é uma tarefa muito mais árdua do que conquistar, pois vai exigir um esforço muito maior. Cansa só de pensar.
O mito de Sísifo é um ensaio filosófico escrito por Albert Camus, em 1941. Através de Sísifo, o homem foi castigado, após a morte, a eternamente rolar uma pedra montanha acima. Sua tarefa não terminava nunca pois, uma vez alcançado o cume da montanha, o pedregulho descia ladeira abaixo sem que pudesse impedir. O castigo de Sísifo, de fato, se deveu a não aceitar sua condição de um simples mortal e levar uma existência sem sentido, embora, por vezes, revestida de glamour, não tendo a coragem de descer ao seu inferno pessoal, em sua miserabilidade humana e lá encontrar seu verdadeiro tesouro: o amor em todas as dimensões.
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