Pelo que seremos lembrados quando partirmos deste mundo? “Se não te é permitido levar mais do que tens, e até o que trouxeste para a vida ao nascer aqui deverá ser deixado”, segundo o filósofo Sêneca. Ou seja, deixar aqui seu próprio corpo – o espiritismo em Sêneca já presente nos anos em torno do assassinato de Jesus Cristo. Não que não fosse lícito ser rico, mas necessário bastar a si próprio diante de qualquer contingência da vida, vendendo seja qual for o bem que a sorte porventura lhe brindou. Não se obrigar à pobreza, mas não percorrer de forma pouco nobre as fases dessa vida, devendo governá-la, exercendo seu livre-arbítrio, e não por ela ser levado. Pobre não é o homem que tem pouco, mas quem anseia por mais. Ou quem entesoura sem parar. Ou quem só pensa nisso. Qual é o limite adequado para a riqueza? Seja tendo o que é necessário ou suficiente, devemos é acertar nossas contas com a vida dia após dia. Não deixemos nada para mais tarde.
Prosseguindo a intervenção espiritual, sem ainda ser presencial na Fundação Marietta Gaio e realizada na residência de cada médium e de quem se encontra sob tratamento, segundo o calendário da Fundação, com todos obedecendo ao regime de confinamento em face da pandemia do coronavírus, a centésima quinquagésima quinta intervenção espiritual, em 3 de dezembro de 2021, efetivou-se sob a égide da leitura de “Vinha de Luz”, 63 (“Atritos físicos”), de Chico Xavier pelo Espírito Emmanuel, e estudo preliminar do capítulo 26 (“Dai gratuitamente o que recebestes gratuitamente”), itens 1 a 2 (“Dom de curar”) e 3 a 4 (“Preces pagas”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Os Espíritos são tocados pelo fervor do pensamento de quem por eles se interessa. Dai gratuitamente o que recebestes gratuitamente, ensina Jesus ao recomendar não cobrar dízimo pelo dom de curar as doenças e de expulsar os maus Espíritos, dom esse dado de graça por Deus para o alívio dos que sofrem, e que ajuda a propagar a fé, não cabendo fazer dele um meio de comércio nem de especulação, sequer um meio de vida. Exigir pagamento para orar a Deus por outrem significa intermediar a prece – um ato exclusivamente de caridade -, e poder-se-ia agravar a tipologia do crime para prevaricação praticada contra Deus visando satisfazer interesse pessoal. Isso não é reduzir a eficácia da prece ao valor de uma moeda corrente? Será que Deus permitiria que criaturas tão imperfeitas se encarregassem de colocar preço em sua Justiça?
Só se fosse para testar o quão somos fáceis de ser ludibriados com falsas informações ou de pormos nossa credulidade à venda. À semelhança de quem considera “se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra” uma exortação à covardia, sem noção de respeito próprio. Quando somente a calma consegue atenuar os desequilíbrios procedentes da ausência de controle. O homem do campo sabe que o animal enfurecido não regressa à naturalidade se tratado com a ira que o possui. O único recurso para conter o desvairado, compelindo-o a se reajustar à dignidade, é não se reduzir ao mesmo nível de quem o agride. Não há convite à fraqueza ao oferecer a face esquerda, depois que a envermelhecida face direita foi esbofeteada. É chamá-lo à razão, reintegrando-o, de imediato, ao reconhecimento de sua estupidez.
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