Filme espetacular e grande produção candidata a melhor do ano, dirigido e escrito por Christopher Nolan, de diversos Batman e “Dunquerque”. Um dos maiores inovadores em atividade na indústria cinematográfica contemporânea para contar uma história e claramente retratá-la em imagens que frequentemente entram em ebulição na cabeça do espectador. Matt Damon, Emily Blunt, Robert Downey Junior (magistral), Rami Malek (ganhou o Oscar pela interpretação de Freddie Mercury em “Bohemian Rhapsody”), Florence Pugh dividem o estrelato com Cillian Murphy, que incorporou à perfeição o personagem de Oppenheimer, físico teórico americano, que avançou sobre a física quântica e nuclear, quando os EUA era um zero à esquerda nesses domínios. Considerado o pai da bomba atômica, em virtude de, durante a Segunda Guerra Mundial, ter sido encarregado de comandar uma equipe de cientistas que viria a desenvolver a bomba atômica e obrigar o Japão a se render. O mundo vivia sob a pressão da terrível ameaça que pesava sobre a humanidade se o regime nazista chegasse primeiro na corrida para se obter uma bomba atômica. Não ia sobrar judeus no mundo, e Oppenheimer era um deles. O que lhe acarretou graves problemas morais ao se investir da figura da morte para destruir o mundo – assim se via -, até em razão da possibilidade de desencadear uma reação em cadeia com a explosão nuclear, que poderia levar a consequências catastróficas e potencialmente acabar com o mundo. Após o fim da guerra, Oppenheimer foi um ícone influente nos meios políticos em favor do controle internacional para evitar a proliferação nuclear em meio à corrida armamentista dos EUA com a União Soviética, assumindo posições no clima tenso da Guerra Fria a respeito de segurança nacional e defesa que provocaram a ira de algumas facções militares e do governo dos Estados Unidos, o que incentivou uma comissão do Congresso no período macartista (1954) a explorar suas ligações com o Partido Comunista e cassar suas credenciais como voz atuante nas relações entre o poder e as experiências nucleares, de modo a tentar silenciá-lo e sepultar sua trajetória, o que em nada prejudicou suas palestras, dar aulas e a escrever e trabalhar com física. O filme se baseia no livro “Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer”, escrito por Kai Bird e Martin J. Sherwin, no qual conecta o cientista a Prometeu, responsável por roubar o fogo dos deuses e entregá-lo ao controle dos homens, ajudando a humanidade a alcançar uma nova era e causando a ira de Zeus, que o puniu severamente por toda a eternidade. De igual forma, Oppenheimer, responsável por um dos maiores feitos do século XX e mudando o mundo tal como o conhecíamos, mas tendo que passar o resto dos seus dias com o peso de milhares de mortes em sua consciência. Para complementar o ambiente de tragédia que toda eclosão nuclear evoca e que permeia o filme em diversas cenas, faz toda a diferença em “Oppenheimer” a impressão de tudo estar de fato explodindo com a bomba, o chão da sala de exibição chega a tremer por causa das vibrações, o que lança o espectador para dentro daquele inferno de chamas, destruição e violento deslocamento do ar. Enquanto surgia, de dentro das labaredas, o “maestro” Oppenheimer a “reger” seus cálculos, suas equações, suas teorias na tentativa de elucubrar por qual caminho viabilizar a bomba. Um quadro fantasmagórico que dá bem uma ideia do quanto o ser humano é capaz de se perder ao lidar com sua inteligência de que se orgulha tanto e afundar em suas inconsequências que não consegue prever nem avaliar.
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