Apresentar à mãe a mulher que arrebatou seu coração é um claro manifesto de compromisso, de interesse naquela que deseja ser sua, somente sua, a ponto de confundir os papéis do casório com a entrada na posse do amor querido. Quem infringir tal mandamento será condenado à morte por desígnio. Ou a tolinha que brincar com tamanho perjúrio será considerada adúltera e apedrejada em devaneios.
Não passa pela cabeça de uma pessoa que tenha um mínimo de auto-estima, que marmanjos procurem a casa de suas mães, a pretexto de terem se separado, para fugirem do relento que o mercado do amor nos lança quando voltamos a ficar sozinhos. Invocar a crise, o desemprego e a inadaptação ao ofício que se entregou, não serve de paliativo para se entregar, de novo, aos cuidados da mãe que goza de boa saúde. Mesmo que seja por um período de transição – neologismo que define o rebuliço provocado para acomodar um presidente operário.
Imagine quando o solitário filho descola uma gata e adentra no apartamento da mãe, compartilhando suas escolhas sexuais com o senso crítico materno, que, como é do inteiro conhecimento de todos, sujeito a chuvas e trovoadas. Tanto pode rotular a gata como piranha até não compreender como uma moça tão boa e ingênua vai se meter no quarto de seu filho doidivanas.
E o que não dizer dos discretos que fogem ao confronto e apelam para o motel, a essência do lar bandido onde o pecado será sufocado no redondo dos leitos ao capricho dos espelhos que retratam o nirvana do amor, mantido oculto e despersonalizado pela instituição que presta relevantes serviços na manutenção do equilíbrio sexual.
Não há como salvaguardar na imagem de pureza que se aplica à mãe um mínimo de cumplicidade, ao acobertar seus erros passados na criação, a querer corrigi-los no presente repetindo a dose, agora mais lúcida, serena e pronta para se entregar e dedicar a esse filho querido. Filho pródigo da mãe, de tão agarrados, Freud acabará por levantar-se da tumba e querer participar do ágape com a autoridade de quem fez a primeira denúncia sobre a orgia mental de que mães e filhos desfrutam, sem a menor cerimônia.
Mães cujo buraco afetivo por ser preenchido abrem as asas como a senhora liberdade e abraçam seus filhos, numa indução flagrante ao crime de sair fora de relacionamentos sem dar a mínima satisfação, uma tônica no universo dos homens, que cultivam a fantasia de abraçar com as pernas o mais infinito e inalcançável dos sonhos sexuais, enquanto as mulheres querem fazer amor aqui na Terra, para aí sim alcançar o Céu.
São homens que não querem crescer, se escondem atrás da saia da mãe, alegam que ela carece de sua presença, máscula ou não. Um inestimável álibi para prosseguirem Peter Pan a encarnar playboys em boates na busca de um tempo perdido, excêntricos seres que se dispersam nas manias e esquisitices geradas quando inalam o fumegar da comida pronta preparada pelo coração de mãe. Coração responsável pelo surto de alergias geometricamente crescente no final do século XX, em resposta aos maus tratos à Mãe Natureza, com a qual se solidariza e irmana.
Quer coisa pior ter uma mãe como referência de perfeição, um horizonte inalcançável, a travar o seu mergulho numa sucessão interminável de erros que o humanizaria e o poria pari passu com a mulher? Livrando-o da carga de subir ao pedestal e defender o pódio. Ou descer à condição de ridículo de pagar pelo aperfeiçoamento da estética de cabo a rabo de sua esposa, para o pançudo se orgulhar de ser o senhor daquelas terras e de haver dispensado o bordel como válvula de escape, fulcro das fantasias sexuais.
Mercantilizando, popularizando, dando visibilidade a seus desejos em sua coisificada esposa, mediante o sórdido pretexto de elevar a auto-estima desses pobres filhinhos da mamãe. Relações do gênero dispensam até filhos, que só atrapalhariam o culto, um ato falho de herança maldita. Para que mais filhinhos da mamãe?
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