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TER FILHOS?

A questão não é querer ou não querer ter filho. É de ter ou não uma criança presente em sua vida, que cresce a olhos vistos no contexto do verdadeiro casamento indissolúvel entre pais e filhos. Porque filho é uma questão de, se você quer ter, que tenha, o problema é seu. Agora, se você não quer de verdade, é de bom-tom que não tenha mesmo, porque se não estiver preparado para a convivência, a rejeição ficará plasmada na retina infantil.
– Só gosto de criança até os três anos porque elas são umas gracinhas, tão puras e ingênuas. Ainda não pensam para dizer coisas malcriadas e grosseiras, comuns em crianças que crescem se especializando na malícia para magoar os pais. Se pudesse, no aniversário de três anos, eu a entregava e pegava um recém-nascido para começar tudo de novo – palavras de uma mãe saudosa de seu filho quando pimpolho.
De que adianta ter filhos para sentir calafrios com o seu crescer e pensar que a cada dia escapam de seu controle, a tal ponto de ficarem maquinando pesada interferência no destino dos pais, principalmente se mostrarem ser espíritos livres?
Próprio de quem não quer e não aceita o crescimento de outrem. Querem criar filhos conformados e aptos a aceitar a indiferença dos outros.
– Só gosto de criança na adolescência, mesmo assim quando já pode tomar conta de seu nariz e, portanto, não é mais criança, já é adulto. Quando não enche mais a paciência dos pais, lembrando-lhes sempre os erros cometidos na sua educação. Nenhum pai suporta filho buzinando nos ouvidos suas omissões. É mortal a obrigação de pai e mãe estarem sempre presentes a fim de que não produzam um desajustado. É uma navalha na carótida lembrando a todo momento esse encargo para o resto da vida, mesmo porque o insensato pode gerar netos. Quando o adolescente deixa de ser criança, abandonando suas esquisitices e extravagâncias com seus ataques de querer-saber-tudo, e conquista auto-estima para ganhar autonomia de vôo na defesa de seus pontos de vista, passa a ser um interlocutor à altura – palavras de um pai sem vocação.
O ideal é o filho se transformar, o quanto antes, num adulto do seu tope, para não ter que aturar tolices de criança. Não querem agüentar a chatice de criarem filhos, querem-nos prontos, iguais a eles.
Projeto de quem não quer e não aceita o crescimento de outrem.

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Antonio Carlos Gaio
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