Por que amizades de longa data se dirigem à ponte que partiu e lá se suicidam? Enterrando os valores cultivados e instalando um clima de cisma, que afasta os espíritos irremediavelmente. Quando todo o passado, por si só, merece um museu, a título de ser revisitado e apreciado sob diferentes ângulos, para saber quem é que tem razão. Se Caim ou Abel.
Depois de 40 anos, o MPB-4 funde a cuca e quebra a harmonia. Ruy Faria sai num clima de mágoa, desconsiderado nas decisões do quarteto, declarando-se voto vencido em todas as questões de ordem. Já deu muito de si para essa galera, companheiro deixou de ser o DNA da esquerda, que perdeu a cor e o rumo: Lula é do povo e não da esquerda, Chávez é do balacobaco da ditadura e Zé Dirceu é um lobista da maior qualidade.
É a Roda Viva, grande sucesso que consagrou o casamento do grupo, abençoado pela oração poética do Frei Chico, o Buarque de Holanda. Ruy se sente como quem partiu ou morreu, o MPB-4 estancou de repente ou foi o mundo, então, que cresceu. Ruy quis ter voz ativa e no destino do MPB mandar, foi contra a corrente, até não poder resistir.
Mas eis que chegou a roda-viva e carregou o destino pra lá, o cantor exige 25% sobre o que os dissidentes vierem a faturar, seja shows ou venda de discos. Roda mundo, roda-gigante, pois se ajudou a construir a marca MPB-4. Roda-moinho, roda pião, nessa idade vai ser muito difícil a subsistência. O tempo rodou num instante, quer ganhar sem trabalhar; os outrora companheiros assim o comparam à esposa que pede pensão do marido ao se desquitar.
O MPB-4 é mais uma instituição da esquerda que se afunda numa discussão ética, onde o talento não é suficiente para conter a deserção de valores morais que mal escondem o pensar pequeno, o espírito competitivo com o foco estrábico, a mesquinhez maligna, a prepotência falida, a hipocrisia que beira a falcatrua. Sem nenhuma culpa.
A esquerda também cansa.
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