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A LÍNGUA É O CHICOTE DA BUNDA

O carnaval já foi dado como morto que nem o teatro. Mas a orgia festiva cresce nas ruas, deixando desesperados os que fogem à luta no carnaval bandeando-se para cidades bucólicas. Incomodando aos que assistem da janela, que nem Carolina, o bloco passar. Causando fricotes nos alcoólicos anônimos em tratamento.
Porque o carnaval sempre coloca em xeque a alegria e o amor. Se há amor, a alegria é filha. Ou se não há alegria, o amor só aparece em forma de funeral. Na base do consolo. Se não tem tu, vai tu mesmo. Não que não possa dar samba, já que Deus escreve certo por linhas tortas. Mas então, qual é o babado?
É como encontrar animação para brincar o carnaval? Não cabe se irritar com tribufus, mocréias e severinos? Com gosmentos que te pegam e arrastam para brincar ao som de marchas ultrapassadas e letras pobres? E o grotesco de fantasias que só pioram a feiúra de pobres coitados? Quem é que eles pensam que são em seu dia de glória? Só falta agora organizar as páginas da vida de carnavalescos depondo como o Carnaval deu um outro colorido à sua existência. Ia virar um arco-íris e todo mundo acabaria entregando o ouro ao bandido. Pois carnaval é exposição e descoberta de um eu maior que você esconde o ano todo, os desfiles de escola de samba como paradigma.
Tamanha indigestão mental faz com que você tire a bunda do sofá que tá um forno, se mexa, alongue os cílios e pinte a boca, puxa dali, aperta daqui, dá um realce, saia pulando, rebole, dance e sorria… você está sendo fotografado no carnaval!

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Antonio Carlos Gaio
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