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CALORIAS MATAM A FOME

O Programa Fome Zero como símbolo do governo de um operário como presidente. O IBGE sacramentou que não existem os 55 milhões de famintos no Brasil e chutou o pau da barraca do carro-chefe do governo, numa pesquisa feita em cima do peso e da altura do cidadão brasileiro. 40% dos adultos com mais de vinte anos são obesos, deixando a ver navios a desnutrição. Fome de verdade, só na África.
Por conta do desconforto, inquietação e agonia em não conseguir emprego ou um rendimento mínimo que assegure uma existência digna, os pobres se julgam mais miseráveis do que são e comem para compensar as vacas magras que se avizinham, afinal de contas, nunca se sabe o dia de amanhã. E tome de se encher de açúcar, de biscoito, pão, macarrão, de paio com feijão. De gordura animal abundante na carne de segunda, mais barata que o peixe, copioso no nosso litoral, sem contrabalançar com verduras e legumes que abundam na lavoura, nem com as frutas, cuja sazonalidade corresponde a fartura, se comparada aos padrões do hemisfério norte. Em se plantando, aqui dá de tudo. Fazendo crescer a bunda que nem fermento no bolo.
Não é à toa que o agronegócio está puxando o PIB para cima, tornando a cisma com os sem-terra uma sandice do tamanho do território brasileiro, é terra pra dar e vender.
Restringir a pobreza à questão calórica é muita pobreza. É se abstrair da indigência do nível de renda dos brasileiros e da disparidade entre os filhos de Deus e os abençoados pelo país tropical, facilmente constatável no número baixo de cidadãos que pagam imposto de renda, compram livros e possuem assinatura de TV a cabo.
Do alto de sua obesidade, Lula confundiu IBGE com IBOPE e Vox Populi, optando por comemorar a retomada do crescimento econômico, enquanto FHC fica milionário como porta-voz da oposição, ao cobrar o olho da cara em palestras-show para falar mal com propriedade, como convém a um astro pop, aplaudido nos salões da elite.
Quem ganha com isso tudo? Não se entende o motivo de tamanha euforia, se basta pôr o pé fora de casa para ficarmos sujeitos a seqüestro em São Paulo, ou estarmos no meio de um tiroteio entre traficantes e policiais nas entradas para o Rio. Não se entende como o risco-Brasil cai tanto quando o turista se torna o alvo preferido de assaltos. Não se entende por que exultam tanto os operadores das Bolsas de Valores, a não ser que especulem em causa própria. Não se entende os empresários vibrarem com o incremento no volume de negócios, se precisam andar blindados na selva de que tiram lucro. O mimetismo político de ganhar tempo e pedir paciência explica as ondas tsunami.
Calorias matam a fome, pouco importa se mais tarde as coronárias entupidas levarão a enfartes e derrames. Ou bem se mata a fome, ou do mal se mata o ex-morto de fome.

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Antonio Carlos Gaio
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