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REPLICANTES

Num mundo onde tudo é fake, desde a bolsa Vuitton até a produção de órgãos e tecidos artificiais para uso em seres humanos, acabaremos por provar que a imitação superará o que foi original. Ao se apressar em desfigurar a realidade, suplantando o que não poderia ser substituído. Conforme previra o filme “Blade Runner”, a era humanóide dá sinais de exaustão. Tiveram muito tempo para fazer amor e não a guerra, abrir mão de seu ponto de vista, saber perdoar e alcançar o significado do termo caridade. Aproxima-se a hora e a vez dos replicantes.
O sangue em pó resolverá o grave problema da falta de estoque para transfusões quando agilizar o atendimento nos centros de emergência, não mais sendo necessário correr atrás de um doador compatível. O implante coclear – estrutura do ouvido responsável por transformar os sons em impulsos nervosos e enviá-los ao cérebro – permitirá a recuperação de um dos tipos mais comuns de surdez. A pele artificial, criada a partir de colágeno bovino e silicone, estimula a regeneração de queimaduras graves, ao tempo em que é absorvida pelo organismo em tempo recorde. Cicatrizar feridas a partir de materiais que interagem com o organismo e substâncias que estimulam a multiplicação celular permite pensar grande: produzir orelhas e narizes. E por que não o transplante de rosto, a caminho de Frankenstein?
O que abre as portas para uma era de otimismo. Mexer na mente, não necessariamente no cérebro, nos impulsos que comandam as nossas vontades e desejos. Sem que seja mais indispensável a mulher fazer uma revolução para tirar do homem a provedoria da casa. Sem cair no marasmo de nada satisfazer as mulheres e dos homens não as entenderem. Sem os homens reclamarem de cobranças ou exigências descabidas da mulher.
Sem os esquizofrênicos sonharem ao mesmo tempo estar livres e ter compromisso. Unindo as decaídas, amélias, brancas-de-neve e cinderelas num rolo compressor para rejeitar o egoísmo e a ambição desmedida, que redundam na falta de cavalheirismo e expõe às vísceras a cultura animal de que não conseguem desvencilhar-se: vagabundear por aí ou depender de um amor de mulher, eis a questão.
Abreviar os dias em que os homens não competirão com as mulheres e as admirarão por serem independentes em seus projetos de vida. Ela poder erotizar a relação, baseada no sexo tudo ser possível, sem recair no baixo nível de ser rotulada de galinha por tomar a iniciativa amorosa. Insatisfeita com a postura passiva secular à espera da decisão do homem, e partir para a conquista. Dizer o que lhe agrada e se sentir livre. E o homem não se inibir, repicando com mais, mais prazer, proporcionando maior entendimento tanto no relacionamento quanto nas resoluções do dia-a-dia. Ambos falando, fantasiando, saindo do mundo real, sem que provoque comoção ou insegurança, essa a maior riqueza a ser alcançada entre dois seres que se amam.

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Antonio Carlos Gaio
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