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DE GEISEL A GIL

Conflito ideológico na cultura. Guerra entre cabeças pensantes sobre como gerir a cultura. Se a cultura continua a evoluir dentro do atual nível da abertura ou se aumenta a embocadura sob o risco de ferir interesses. Gilberto Gil e o Ministério da Cultura num canto do ringue; no outro, Luiz Carlos Barreto, sustentáculo do cinema, Cacá Diegues, autoridade inconteste do bye bye Brasil, e Arnaldo Jabor, o ideólogo. Como pretexto, a criação de uma agência que regule o cinema e as mídias audiovisuais comprovando que a indústria do celulóide dá panos pra mangas na política.
Do alto de sua experiência de recordista brasileiro de bilheteria com “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, L. C. Barreto assegura que as famílias em casa dão um retorno maior do que indo ao cinema, o mercado de DVD está em franca expansão, o ofício de produtor é mal remunerado e não vai ser um burocrata qualquer de Brasília que fará leis sobre uma atividade que ele nunca exerceu. Reclama que querem tomar conta do cinema investigativo e do cinema de mercado, destruir as multinacionais do cinema e a TV Globo, logo o Gil, um fruto da indústria fonográfica, que deveria reproduzir o modelo da música na sétima arte. O chororô do Barretão ter mais vez no dinheiro que patrocina o cinema brasileiro é a última música que quer ouvir.
Como Gilberto Gil em desforços políticos parece mais mineiro do que baiano, eis que José Celso Martinez Corrêa, o consagrado diretor de teatro de “Roda-Viva” e “O Rei da Vela”, se oferece para bater em todos, na defesa do que há de mais forte no Brasil: a cultura. De peso maior inclusive do que a educação, a ponto de superar as maracutaias do mesmo capital que demitiu Lessa do BNDES por não rezar na mesma cartilha da política econômica e não se comportar como um carneirinho. Por sua compreensão completa da cultura brasileira, principalmente como fator de riqueza do país, Gil revive Oswald de Andrade na ênfase à brasilidade pintada nas cores de um regionalismo ainda desconhecido. Gil é a própria realização de um projeto para cultura, dentro de um panorama de letrados em que o interior de São Paulo é colonizado, o PSDB é um partido jeca e o PT acomoda stalinismo, catolicismo e moralismo, não deixando pedra sobre pedra, o Zé Celso.
Está em jogo uma política de mercado em que se negocia livremente até onde você vai para eu poder chegar, sob o risco de resvalar para o mercantilismo, ou uma política de maior atenção ao pequeno produtor cultural espalhado pelo Brasil afora, mas que ainda não dá lucro. Sob o risco de resvalar para o protecionismo e a demagogia. Um dilema entre incentivar cada vez mais produções grandiloqüentes como “Olga” e cortar pela raiz filmes que incomodam como “Cidade de Deus”.
Está em jogo um novo round entre PSDB e PT no arraial em que a estrela petista mais brilha, numa esfera que nem o Banco Central ousa bancar o xerife. Inexiste arte na economia, em contraste com o mito do Cinema Novo – e a sua estética da fome -, que ainda é a referência do discurso cinemateca dos tucanos, quando já reverteram ao sucesso capitalista.
Para qual lado Glauber Rocha penderia? Geisel ou Gil? A Bahia falaria mais alto?

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Antonio Carlos Gaio
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