Adolescentes, entre 8 e 17 anos, que dividem um bueiro na praia de Ipanema, fugidos de casa, onde eram maltratados pelos pais, com passagens pelos abrigos da prefeitura, ocupam uma galeria pluvial fechada com barras de ferro chumbadas no cimento. Usam a própria magreza para se espremerem por uma passagem com pouco mais de um palmo de largura e ali se refugiarem para assaltar. Cheiram cola antes de escolher a vítima, com plena consciência de que quem rouba morre cedo. No bueiro, se protegem dos dias de frio, dos guardas municipais, mendigos, adultos, das agressões e humilhações dos internatos.
Um país desse tamanho com crianças morando em buracos. Dando margem aos que “moram bem” manifestar o desejo de jogá-los no mar. Como em São Paulo, um novo surto de mendigos atacados com um único golpe de marreta. Um requinte de criminosos extremamente inteligentes e organizados, a ponto de não usarem armas que deixem pistas e agindo sem serem notados. Quando não oferecem uma garrafa de conhaque envenenada com chumbinho, que deixa a vítima paraplégica ou com problemas neurológicos.
Uma epidemia de execução de moradores de rua começa a se alastrar: Petrolina, Belo Horizonte, Sorocaba. Matadores numa campanha de assepsia que se arvoram em decidir o que é melhor para o Brasil. Nos colocando em xeque, ao agravar o senso de culpa versus irritação diante do refugo da sociedade confrontado com a massa de desempregados.
Quando realizado, o filme “Laranja Mecânica” tinha uma concepção futurista. Que virou realidade em pouco mais de 30 anos. A ponto de uma organização fascista em São Paulo tornar público seu ódio aos migrantes nordestinos, responsabilizando-os pelo crescimento da população de rua. Cheira a preconceito. Uma declaração do presidente Lula que incomoda.
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