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INCOMPATIBILIDADE

Quando a mulher é solteira, ou quer permanecer solteira, fissurada em ainda poder seduzir e virar a cabeça do mais fiel dos homens, não se descuida nem por um segundo da aparência, ao confrontar-se no espelho com coragem. Perder as formas é coisa para amadora que já conquistou seu homem, a sedução perdeu o encanto, cansou-se da disputa, e virou baranga.
Barangas ignoram que cafuzas sestrosas não se intimidam com homens que pretendam colonizá-las ao feitio de oração de senhores-de-engenho que a desprezam como indiazinhas, inconformados com a atração que sentem por genes que não se curvaram à raça branca.
Brancas azedas de cultura européia, perdidas na tradução do efeito dos trópicos, se levantam da mesa em meio ao jantar e os deixam sozinhos com suas mal traçadas idéias, julgando-se superiores em gênero, número e grau. Findam gretas garbos no deserto do amor, sem ter onde esconder seus impulsos sexuais mais legítimos, nuas restando por não poder abraçar a quem mais quiseram. A quem mais amaram. Uma instituição a caminho da falência – o homem de suas vidas, que deixaram escapar.
Incompatibilidade.
Quando os opostos se atraem. Quando um nada tem a ver com o outro. Quando ao se procurar a alma gêmea, o objeto obscuro do desejo se encontra no extremo oriente, onde o mais muçulmano de Meca não cruza com o mais budista do Tibet. Onde a veemência de suas veias pulsando, o cheiro forte que emana de sua boca e os olhos inundados de lágrimas, ainda não permitem que se quebrem as barreiras e entrelacem um ao outro, num beijo irreparável que dissipe por completo as suspeitas, vacilos e senões que pontuam suas trajetórias.
Não se detenha no ponto morto, é possível amar o próximo.

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Antonio Carlos Gaio
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