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PENDOR PARA O ATRASO

O Código Civil que regula os direitos da família, aproximando o casamento do fio da navalha, em virtude da posse sobre coisas alheias que prejudica a sucessão no caso de traição, tumultuando a parceiragem e sua partilha, data de 1916.
Começou-se a ruminar sobre sua modernidade nos 6 meses de Jânio Quadros, chegando a um texto-base na intercessão de Médici com Geisel, assim se passaram 26 anos, até a Câmara atual aprovar para entrar em vigor daqui a 2 anos.
Tudo no Brasil chega atrasado, é a República proclamada antes que o Barão de Mauá engolisse o Brasil, a escravatura abolida depois da Jamaica, os militares reclamando de Vargas e cravando 22 anos na sua ditadura, prolongando a estrela de Sarney revigorada pela diverticulite. Resultado da inequação: Jânio varrendo a corrupção somado a Collor caçando marajás equivale a reeleição, agora presente garantindo a vocação para o atraso.
A virgindade era motivo de anulação do casamento, de tanto fustigarem o hímen, se era complacente ou não, ele acabou rompendo com o tabu e transformando o brotinho de Copacabana em lolita, reduzindo o limite de idade em querer ser mulher, digamos, para 13 anos, ou menos, conforme grotões em que senhores respeitáveis satisfazem a sanha do poder.
Piada reduzir a maioridade para 18 anos, quando playboys já se anabolizam em academias aos 14, digamos, para ganhar corpo e roubar som dos carros dos amigos do pai, agredir gays e fechar boates, reduzindo o mercado dos pivetes, de menos idade ainda, que se espelham na folha corrida dos parlamentares.
O adultério tanto quanto o sujeito galinha caíram em desuso, já nos esquecemos de que o sexo antes do casamento era um ato de desonra que a infeliz virgem cometia contra os pais, a caminho da prostituição. Reparação, somente com as bodas. Apertões, encosta daqui e dali, esfrega, sarro, nem sempre com o noivo, havia que coibir a mulher galinha antes que ela subvertesse os bons costumes. Já nos olvidamos que o homem procurava dar à amante preferida um tratamento especial, condigno de uma segunda esposa. Alugava um apartamento para os encontros furtivos, instituía a passagem obrigatória e concedia uma pensão a título de purgar seus pecados e manter as aparências. Queimaram-se os sutiãs, a mulher ganhou a carta de alforria para também trair, abandonar e… tintim para o teste do DNA: o tiro de misericórdia no senhor-de-engenho e no seu séqüito de escravas do desejo.
Respeitar a mulher como cabeça-de-casal não constitui propriamente um avanço, pois o homem como soberano nas decisões familiares já entrou em decadência há séculos. Ela se casava legalmente, se separava obedecendo à lei, e não era ninguém, quando já sustentava inúmeros marmanjos perdidos por aí. Se pobre, a faxina garante o leite das crianças, enquanto o marido encosta. Se classe média, a prisão ameaça os que dão beiço na pensão, enxotando-os para o colo da mãe por conta do desemprego. Se rica, o contrato pré-matrimonial previne quanto a diabruras deles em busca da juventude e farta beleza a preço baixo.
No momento em que se discute clonagem, aluguel de útero e teste de DNA, o Congresso revela quão antenado está com a reforma dos costumes e o apreço a tudo que cerca as relações de afeto, ao indicar o pecuarista pernambucano Fiúza – integrante da tropa de choque de Collor que renunciou ao mandato para escapar da cassação no escândalo do Orçamento – para fechar o caixão e rejubilar-se com a façanha de em pouco tempo realizar o que só se faz em 100 anos.
Pêndulo, ó pêndulo meu, que pendor para o atraso! Entre o queijo de coalho e a caninha da Serra, não fareja a falência das identidades masculina e feminina na conjunção carnal e a futura exigência de pré-requisitos para se habilitar a exercer o sexo com que nasceu, a fim de que nos previnamos quanto ao mau uso e seus filhotes.

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Antonio Carlos Gaio
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