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MATRONAS

Simone de Beauvoir, precursora do feminismo e companheira de Jean-Paul Sartre, chamava seu amante, o escritor americano Nelson Algreen, de “meu crocodilo” e “meu marido”, se auto-intitulando “sua rãzinha”. Simone teve suas primeiras experiências sexuais com Sartre, na idade provecta de 22 anos, que depois se converteram numa comunhão fraterna e intelectual -o célebre casamento aberto. Monsieur Jean-Paul então se dedicou a seduzir jovenzinhas enquanto Madame Simone viveu seu romance de folhetim, ao longo de 18 anos, em que se viram uma meia dúzias de vezes. Recebendo-o de robe de seda para que ele pudesse vê-la lavando pratos com elegância. Confessa em cartas – aquela que defendeu a elevação da condição feminina e pregou a queda da ditadura da fidelidade – que seria fiel a Algreen “como uma esposa exemplar e convencional, unicamente porque não poderia ser de outro modo”, não poderia suportar as mãos nem os lábios de um outro homem, não poderia dormir com mais ninguém.
Os Estados Unidos igualaram os sexos, ao misturar homens e mulheres nas Forças Armadas. Segundo a escritora Stephanie Gutmann, filha de militar e criada em quartéis, a guerra faz parte da natureza masculina e as mulheres nada têm a fazer num ambiente dominado pelos homens desde que o mundo é mundo. Massa muscular da mulher 60% menor que a do homem, lançar as granadas não vai tão longe, constituição óssea frágil, se machucam mais, e a cistite tornou-se um estorvo, pois elas evitam urinar durante as marchas – dispendioso reformar os submarinos para criar banheiros femininos. Ao precisarem moderar o comportamento e abrandar o ritmo de treinamento para não deixá-las em situação desconfortável, os marmanjos amoleceram. O Estado de Israel põe o dedo na ferida ao não permitir que elas entrem em batalha, assim não correm o risco de caírem prisioneiras e serem violentadas. A guerra é coisa de macho?
“Verdade Nua” é um programa de variedades que faz sucesso na TV russa, a ponto de os políticos entrarem na fila para serem entrevistados. A apresentadora tira a roupa diante da câmera ao narrar as notícias, jornalistas de topless em entrevistas externas, e a previsão do tempo a cargo de uma strip-teaser. A atração é um microfone de tamanho acima do normal preso entre os seios e o segredo do sucesso é combinar o tratamento sério das matérias com as moças seminuas. Um deputado declarou que é estimulante quebrar tabus pois Lenin escreveu que devemos usar todos os meios disponíveis para avançar na luta.
Mulheres transgredindo, recuando, se machucando, desafiando. E desafio é com a vovó portuguesa Iselinda, de 75 anos, presa por tráfico de drogas ao embarcar para Portugal. Chocando a todos pela arbitrariedade da polícia em manter a vovó presa por dois meses. Duvidar logo de uma vovó portuguesa! No entanto, os grampos revelaram outra verdade: “eu enganei todo mundo”. Tarde demais, goza da inocência em Portugal.
Daí ser compreensível certos homens virarem matronas, predicado exclusivo do universo feminino, perdendo o brilho e o vigor de inesquecível lembrança no passado, adquirindo uma fraqueza de espírito. Baixando os braços de desânimo e se retirando da arena, transformando-se num zero à esquerda.
O melhor a se fazer é não pensar e seguir os ensinamentos do agora imortal Carlos Heitor Cony, ao descobrir o estado de neutralidade ideológica absoluta, de invejar suíço: “não tenho disciplina mental para ser de esquerda, nem firmeza monolítica para ser de direita”.

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Antonio Carlos Gaio
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