A vida não dá sossego. A qualquer hora é possível nos descondicionar para testar nossa resposta à instabilidade provocada e nos ensinar a dizer adeus às pessoas que amamos. Sem que necessariamente elas tenham morrido, simplesmente não fazem mais parte do seu entorno, quando não deixamos de vê-las. Há momentos em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar o seu caráter de visível somente na imaginação e torná-la concreta, apenas para separar o que há de real e o que há de ilusão. Até para constatar se é mais gostoso amar a ilusão. Ou se amar à distância confere menos problemas, sublimando, apesar da saudade.
Mas, para rever a quem demos adeus, forçoso seria uma iniciativa em querer reatar o vínculo. O teste é necessário para examinar se ainda existem resíduos do amor que se foi, descontaminados de mágoa. Quem irá negar que já não precisou desse perdão?
A maior prova de humildade é admitir que ama incondicionalmente, posto que precisa desse amor. É tirar da crise de fé a quem amamos e despertá-la para toda a grandeza de seu espírito e mostrar o quanto é capaz.
Mas se você já rompeu os laços para construir seu próprio caminho, o que fazer? Já não é o mesmo homem, nem se reconhece mais se comparado ao que foi um dia. A ponto de não querer olhar mais para o passado. Exceto se for para impulsionar o presente, que ocupa todo o seu tempo e aquieta sua angústia. Que não é por insatisfação. Apenas a incerteza em escolher por qual escadaria subir. Como se estivesse perdido na floresta amazônica de edifícios portentosos com andares que não param de se erguer à sua frente.
Quando você tem de definir a quem ama de verdade. Em confronto com mulheres que não são bibelôs e adotam messianicamente seu homem, sem se importarem com o amor que dilapida a sua auto-estima, mas que as preenche e as engravida de satisfação.
O cerne de todas as grandes paixões que culminam, invariavelmente, em final infeliz, senão em tragédia grega. Como a de Maria Callas, que perdeu a voz e caiu no ostracismo diante de um Onassis, que não correspondeu a seus anseios e preferiu uma Jacqueline Kennedy, absolutamente omissa face aos desvarios de um presidente garanhão. Jackie, no entanto, conseguiu se preservar como primeira-dama e preferiu se vender ao grego do que permanecer viúva e curadora do museu dos Kennedy. 20 milhões de dólares, fora as mordomias e gastos sem limites no cartão, um preço até barato para o magnata dispor de sua imagem de mulher inteligente, altiva que nem uma rainha e elegante ao extremo.
Foi na década de sessenta que a lenda do amor eterno começou a soçobrar e o homem, para não afundar, teve que aprender a contornar obstáculos, como o rio em seu curso. Nada fazendo para mudar o seu destino, nem alargar o limite das margens com que foi definido para ganhar embocadura. Enquanto a mulher se libertava de seu continente perdido no fundo do mar, vindo à tona para respirar novos ares.
Quando o destino inexorável do rio é desembocar no mar, a fim de se misturar às águas incontroláveis de oceanos, cuja nascente se desconhece o nome do pai e da mãe. Embora haja quem prefira evitar o encontro das águas e se esconder como afluente, à sombra de outro rio, para não ter que assumir o seu verdadeiro leito e decidir se sua origem é bastarda ou divina.
Deixe um comentário