Diabo em forma de gente são mulheres que não se sabe por que cargas d’água os homens se apaixonam e resolvem encarar essa pedreira em nível de relacionamento. Tesão, atração fatal, desatino, perda temporária de neurônios, preferência no caminhar às cegas, carma, praga da namorada anterior, o “bem que eu avisei” da mãe. São tantos os motivos que a razão desconhece, que cai no conceito dos amigos: logo com essa mulher? Que é que você viu nela? Nem bonita ela é! Não está um pouco gasta? Vocês dois não combinam!
Todos os seres humanos são iguais, querem amar e ser amados. Mas é difícil ser honesto no amor, quando não se conhece bem a si próprio. Pois você acaba por sacrificar a relação com medo de que o entusiasmo gore. Mas não podemos ir todos para o divã. Enquanto formos imediatistas, a paixão nos submeterá como a maçã a Adão, que cravou os dentes nela sublimando a fome por Eva, antes mesmo de o pecado se instalar. O ato de Eva ofertar a maçã já trazia em si se oferecer de corpo e alma para se libertar da angústia de o que fazer com tanto amor. Mais que sedução, uma necessidade.
Só pode ser o diabo em forma de gente.
Como evitar se acercar e se apaixonar pelo diabo em forma de gente? Quando é prudente manter à distância, se não admira, não quer para sua mulher e se envergonha até do que os outros irão pensar dela? Aí é porque você discrimina, julga-a não estar à sua altura ou, então, ela irá encher sua paciência com seus conceitos capengas de razão. Por não parar para pensar. Já que não tem o menor pudor em ser tresloucada, em sufocar com sofreguidão cada palavra que chora, possuída por emoções sem pé nem cabeça que desenrolam seu amor escadaria abaixo. Depois é só baixar o santo e pronto. Muda de personalidade e nada será como antes. Tudo irá transparecer como se nada tivesse acontecido.
Quantas vezes você não encontrou uma mulher que foi má, senão perversa contigo? Entrava em disputa, competia, se descabelava, se maltratava, discutia e se engalfinhava com sua própria sombra. Quando via seus interesses afetivos frustrados nesse homem em projeto que está esculpindo. Ou enquanto, em seu projeto de vida, esse homem se encaixava à perfeição.
Com os diabos, por mais que você explique, ela não entende! Não porque seja loura burra, mas por beirar a linha divisória que separa o normal do anormal e hesitar em cruzá-la; sabe-se lá se irá pôr os pés em terra firme. Como levar fé em homens que consomem a paixão até vê-la exaurida como as florestas que desmatam? Se não se importam em suprimir o oxigênio de que necessitamos, em depredar a natureza das florisbelas sem a menor condescendência, pôr quadrúpedes no lugar de árvores da vida. Por que não reservar à paixão um retrato bolorento, amarfanhado no fundo da gaveta?
Encafifadas as diabas não são, sabedoras de que o homem detesta ser vigiado, sob a sombra de incertas, temendo ser avariado no que ele ama preservar, quando invadido em seus bolsos e correspondência, vasculhado a dedo, ou traído por amigos, como sinal de alerta, emitido por quem domina o ofício de atirar para matar. Elas não admitirão serem vulgarizadas, objetos da paixão.
Como evitar se apaixonar pelo diabo em forma de gente, quando aproximam feito serpentes, se arrastando para dar o bote? E engoli-lo, como uma sucuri ao boi, depois de enrolar-se em sua carcaça de modo a não lhe dar outra opção. Qual dos homens não quis comer uma cobra para provar do seu veneno e bater no peito, alardeando que venceu? Domou o bicho. Como se o diabo pudesse se tornar propriedade de alguém, embebendo de glória seu feliz treinador.
Fuja do seu transe hipnótico. O diabo se veste de santa. Uma criança pura ocupando seu céu de fantasias eróticas. Ou então enfrente, que fama qual nada! Parecer-lhe-á um ente desprezível. Mas, cuidado! O inimigo dorme em sua cama, entocado em seus lençóis, para atocaiá-lo com uma disposição de dragão que porá fogo em suas ventas e enfunará suas velas para naufragá-lo em águas profundas, onde perderá o chão. O diabo em forma de gente age como o crocodilo, que o arrasta para o fundo do rio, corta-lhe a ligação com o seu meio e depois o mastiga.
No máximo, o diabo em forma de gente proporcionar-lhe-á uma viagem alucinógena, da qual não elucidará o enigma de por que se apaixonou por tão estranha criatura.
Vinga a certeza de nunca mais querer sentir o hálito raivoso de tamanha assombração. São espíritos obsessores que aqui vieram apenas com o intuito de o testar. O desejo não é só como o diabo pinta. Se resolver parar de brigar consigo e refletir: “O que eu preciso mudar na minha consciência para não atrair mais essas experiências que só consomem a minha alma?”.
O que você atrai para sua vida é conseqüência de sua criação.
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