Sob o disfarce de reservados, os homens não confessam nada a seu respeito. Além de contemplarem, com ar de superioridade, a necessidade que as mulheres têm de trocar confidências, se desentenderem por conta de segredos revelados que não caem bem no seu quintal e desunirem a classe com rara facilidade, com uma tremenda vocação para o suicídio, portanto.
Um homem apaixonado sempre nega o amor que fugiu ao seu controle e à volúpia que se apossou dele. A não ser para fazer graça e confessar perante a plateia: “Eu amo minha mulher!”. Que o assiste, incrédula, cansada com tamanha hipocrisia, pois só colabora para desvalorizar o amor. Salvo no caso dela ser areia demais para seu caminhão, quando reconhecer, elevará seu prestígio junto a outras mulheres, no caso dessa paixão dar com os burros n’água. Acredita que as mulheres identificarão nele um ser confiável, voltado para o amor. A eleita é que foi burra e jogou a sorte grande na lata do lixo.
Crê que, a despeito da decadência física, a cabeça vai ficando cada vez melhor. Em síntese, cada vez mais jovem. Como se tivesse nascido decrépito, evoluído para velho e amadurecido, recuperado o vigor físico e finalmente alcançado o tesouro da juventude. Quando não lida bem com a ereção não corresponder ao seu comando na hora e no lugar certo, perdendo o seu formidável grau de espetacularização, provocando aflição e angústia, na agonia de um deus vencido. Sabe que está sujeito a entrar em ocaso, não necessitando que envelheça, o que confunde com ruína, por mais que se previna. Se submetido a limites, revolta-se. Se sempre quer brilhar, como encarar o declínio do astro?
Urge que os homens façam uma revolução em suas cabeças, se, até hoje, não sabem lidar com a sexualidade de maneira diversa que os seus ancestrais lhe receitaram. Quando é preciso que a relação sexual seja singular para manter essa energia em movimento. Se usarem todos os artifícios postos à sua disposição, sem egoísmo e precipitação, descobrindo-se e permitindo às parceiras descobri-los, devagar se vai longe e contorna-se os obstáculos que habitualmente aparecerão. Basta não querer resolver de afogadilho.
O pior é que não confiam em mulher nenhuma que vá entender o que se passa em seu íntimo. Como o homem irá abrir o jogo, sem cair no lugar-comum do sexo? Sem que necessariamente esteja falando de sexo? E sim de um amor que não lhe permite abrir seu coração, por cultivar dificuldades que só tornam o seu horizonte sombrio e o amadurecimento lento como um cágado.
Só existe uma maneira de vencer condicionamentos que nos amarram a uma pobre existência. Esquecendo os traumas do passado e não criando expectativas excessivas sobre o futuro – tarefa difícil, se vivemos com a cabeça cheia de sonhos. Não permitindo que sua mão pese sobre os erros cometidos, consciente de que está dando o melhor de si. Em se tratando de amor, o cérebro nem sempre governa bem, incapaz de romper os bloqueios que rifam suas emoções, quebrando a confiança do homem em deixar-se possuir pela verdadeira energia que está em jogo.
Caso contrário, o sexo vira um simples ato mecânico que provoca um vazio no final.
Deixe um comentário