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COMO SE VIVO AINDA FOSSE O AMOR

Amores sólidos que redundaram em filhos e deveriam perdurar para todo o sempre, mas extinguiram-se no meio da trajetória. Os corpos se separaram, no entanto os espíritos permaneceram umbilicalmente ligados pela mesma razão que as energias negativas os levaram a se afastar. Como se o amor vivo fosse.  
Imunes a qualquer teste de resistência, firmes, atrelados ao passado. Não se trata de mero exercício de saudade. Os dissabores alimentam o inconformismo pelo casamento não ter dado certo. O gosto do beijo não morreu na boca, o que só piora a revolta. Rememoram os marcantes períodos em que aprofundaram um maior conhecimento e encadearam uma relação inquebrantável, se medida pelos vínculos formados. Mesmo quando ocorriam brigas e se diziam coisas que, você juraria, rompiam elos importantes – foi-se muito longe dessa vez! E ela voltava ao tricô e ele a trocar peças de seu automóvel. Amando-se mais do que antes da disputa e felizes por ser possível subir mais degraus na escala do amor.
Contudo, as desavenças não pararam de crescer e um belo dia o vulcão entrou em erupção e vomitou lavas, problemas mal digeridos e pedras. Pedras que explicaram o peso que carregavam em sua existência ao transformarem o amor em fardo. De tal monta que não restou outro caminho senão partir.
As ofensas proferidas à época se agigantaram e foram sendo guardadas nas gavetas do arquivo que formamos a partir de nossas experiências. A incompatibilidade persistiu. E a constatação de que a falsa percepção da realidade desviou seu rumo para um lugar distante de seus sonhos. A projeção de um ser amargurado e derrotado.
Como pensar em um novo relacionamento se ainda preso ao amor perdido? Prefere se manter atado ao passado, torcendo para que a chama perdure acesa no presente.
Sem, no entanto, reconhecer. Muito presunçoso, não pode admitir que errou. Logo no tocante a escolhas do amor. Onde ninguém quer se enganar, em virtude do preço que se paga. Revela incapacidade ou deficiência de qualquer sorte, já que despreza alargar seu conhecimento e sua visão – a possibilidade de fazer as opções mais acertadas.
Fim do caminho. Optou por continuar a ser o que sempre foi. Orgulhosamente. Coerente com seus princípios. Com o que sempre pensou. Sem rever seus conceitos. Sem o menor interesse em corrigir sua trajetória. Sem mover uma palha. Valendo-se de sua integridade, moral e correção de propósitos. Sem se vergar ao julgamento com que castiga os outros, até por não ser complacente consigo mesmo. Sem exercitar o autoperdão!
Deus aí demonstra que, se estamos sujeitos a falhas, é para provar que o erro humaniza; que, apesar da beligerância com que reagimos a quem pisa nos nossos calos, somos frágeis. E para nos induzir a encontrar o verdadeiro sentido humanitário que nos habita.
Palavra de Deus: super-homem não existe.

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Antonio Carlos Gaio
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