Em sua hiperatividade sexual de outrora, o homem não sabia escolher entre a puta da esquina, a balconista que o atendia no zé das couves, a prima distante, a faxineira, a secretária do papai e a namorada aprovada pela mãe, pesando-lhe a obrigação de ficar noivo.
Hoje, rompido o tabu do sexo, o ideal é somente namorar e ficar nisso para não se comprometer e acabar mostrando tudo aquilo que não confessa nem para o seu melhor amigo.
E se a dita cuja vier com o mesmo discurso e, sorrateiramente, se aproximar, pé ante pé, e lhe propuser casamento de chofre? Ou, com jeitinho, viver junto? Ou melhor controlar seus passos, na doce ilusão de gozar de fidelidade absoluta. Seguido da ameaça de ir à luta e procurar coisa melhor na Lapa querida.
Você não vai cair no ridículo e cantar “quando eu morrer, me enterre na Lapinha”, não é mesmo? De calça, culote, paletó, seu almofadinha! Como perdedor, gritar que é um homem só, sem saber mudar.
Como é desesperador o desamor levar de vencida o amor e virar irmãozinho daquela que já foi sua esposa e se perdeu num passado que deixou de ser glorioso, tendo morrido rigorosamente no vestido de noiva! Melhor namorar, saber onde ficar e até onde ir, não ser de ninguém e ser de todo mundo, se todo mundo é meu também. Se só sei namorar e não desejo colocar minha vida em jogo. Se o que eu quero é ser feliz e o que me falta saber é onde fica a porta de saída.
Porque amada amante soa decadente e ficou por demais antigo. Pede um mausoléu a amada amante que faz da vida um instante ser demais para nós dois, pois um é pouco mas não é plausível aumentar a audiência da solidão.
Finalmente chegamos à era do amor sem preconceitos, no qual pouco importa o que é direito, se as leis e os costumes vão sendo estabelecidos à medida que o romance se desenrola. Se resistir a abalos e absurdos é porque mantém acesa a chama de uma verdade que soterra acordos, convenções e padrões do passado.
Para que casar, então? Se já está casado! Vivendo a ilusão de que ainda namora. Ou para que namorar se lhe é facultado amar de vez em quando? E se o pouco for muito, intenso, ardente como um dia de verão que chega ao fim? Por que não ficar dois, três dias seguidos juntos? Por medo do compromisso latente? Do namoro que se enraíza ou do casamento que, se pudesse, substabeleceria o encargo à amada amante? Por medo de amar ou por um amor sem complicações?
Como não se envolver amorosa e (ou) sexualmente, se sua atenção ou desejo foram cativados? O homem está no firme propósito de reinventar a roda.
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