A posse de Dilma quase foi obscurecida pela despedida de Lula, correndo para o abraço e juntando-se ao povo para calar os caretas que defendem a postura aristocrática na chefia do Estado. Quase foi obscurecida no adeus ao Lula, quando ele embarcou no Aerolula de regresso ao seu apartamento em São Bernardo, com direito ao hino do Corinthians, às vinhetas evocativas de vitória de Ayrton Sena, com todos a cantarem num “adeus” que mais parece o “até breve” do Serra, finalizando com Lula aparecendo na janelinha do piloto, à la Romário, para o último aceno. Quase foi obscurecida pela aparição abençoada por Deus de Zé Alencar do hospital saudando a Dilma presidenta. Quase foi obscurecida pelo Sarney, que não se cansou de marcar presença desde fazer discurso na posse de Dilma até embarcar no avião de Lula para trazer sua solidariedade ao Zé Alencar e quiçá passar a noite em São Bernardo, comemorando a vitória do PT. Se não fossem as mulheres de Atenas para salvá-la e lembrar a nós que Dilma entregou sua juventude ao sonho de um país livre das peias de uma ditadura e mais justo, suportando as dores e humilhação da tortura ao longo de 22 dias por ousar enfrentar o arbítrio e, nem por isso, guardar qualquer ressentimento ou rancor do cárcere a ela imposto. Contudo, Dilma jamais se arrependeu do que fez, o que vale para nos alertar quanto à lei do retorno. De tudo ter volta, especialmente se intransigente formos. Nem uma falsa anistia sobreviverá para salvar as aparências. O que estava por baixo fica por cima. E o que estava em cima, some terra abaixo, pedindo para que os esqueçam. O efeito zarabatana é implacável e não dorme no ponto.
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