Nós, brasileiros, ficamos em maus lençóis quando, por conta da maldita rivalidade entre Brasil e Argentina que o futebol estimula, flagramo-nos encantados com o cinema argentino, ao conjugar, de forma singular, inteligência, sensibilidade e lições de vida. Como desenrolar uma história com uma vaca caindo do céu, um chinês que não fala espanhol e um dono de loja de ferragens sempre mal-humorado? Em torno de se a vida faz sentido ou não. O amor dá sentido a tudo, mas, irritado, não se encontra um parafuso sequer para juntar as peças. O que esperar de uma vaca? De um chinês que não se conhece sua trajetória? A maior dádiva de se escrever é a liberdade que a criatividade permite. Você pode inventar e imaginar o que quiser, sem problemas. Às vezes, a inspiração vem das coisas pequenas da vida ao observar o que ocorre à sua volta. Como na vida, perguntamo-nos se, no final, “Um Conto Chinês” fará sentido a despeito de tão poucos elementos que, todavia, vão ganhando grande dimensão pouco a pouco e envolvendo por completo a plateia. Foi preciso passar algum tempo com os personagens para conhecê-los melhor e compreender que uma vaca pode transitar pelo destino e encerrar uma rara sabedoria. Memorável conto chinês com padrões e linguagem argentina.
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