Quando alguém bem próximo morre, é comum surgir uma voz frustrada com aquilo que gostaria de lhe ter dito e não pôde dizer. Quando não reclama do falecido, que não quis abrir as portas para ouvir o que você tinha para dizer. Vai ver que por receio de escutar o que suspeitava que você pudesse dizer e que ele não desejava, ou melhor, não lhe interessava debater, temendo aflorar questões para as quais não conseguiria boas respostas ou sentir-se-ia num julgamento antecipado de sua vida pregressa – mesmo sabedor de se encontrar a um passo de iniciar a grande viagem. Restando a sensação de que adoraria que ele lhe tivesse revelado alguma coisa. Não precisava ser transcendental. De caráter pessoal, por mais irrelevante que fosse. Para, ao menos, ter um enigma como legado, já que a verdade dos fatos ele levou para a sepultura. Isso não só acontece na morte, mas sobretudo em vida no seio de uma família. Em relações onde o amor entranhou-se de tal forma que deixou sequelas na separação, sendo difícil lidar com o afastamento. Pior mesmo é o que você não foi capaz de dizer e o abismo se alarga com o passar do tempo. Perdendo uma excelente ocasião por preferir calar-se para todo o sempre.
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