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RENÚNCIA

Você atinge a maturidade quando prova o gosto de perder e não mais sente na boca o amargor natural que acompanha os insucessos. Porque aprendeu a renunciar, deixando de ser queixoso e cobrador, não transferindo a responsabilidade a outrem e revelando um desprendimento não percebido anteriormente. O que lhe proporciona caminho livre e desimpedido para encetar novas amizades e amar de novo, ao não restar mágoa de raízes partidas. 
Para renunciar, você tem que estar disposto a provar o gosto da verdade, seja ela qual for. Renunciar até a si mesmo, desse seu invólucro e conteúdo antiquados. Como somos muito apegados ao nosso perfil usual e estamos acostumados a agir da mesma maneira, pois a vida é um condicionamento só se não tomarmos cuidado, urge saltar fora do pântano de ressentimentos e de desconfiança em que você está se afundando. Que, na sua falta de lucidez, imagina ser uma piscina, sentado numa boia, a perscrutar o céu, sem sair do lugar, e sem nada fazer.        
Configurando um impasse. Difícil saber renunciar. Sua alma deve se separar de um coração que choraminga copiosamente por um desgosto que não tem remédio, quando não existe mais nada por que lutar. O nó se desfaz se você aceita renunciar. Sem o quê, jamais haverá o encontro com a natureza verdadeira com que você pretende irmanar-se e ser feliz. 
Lidar com a impossibilidade em conflito com a atração, ainda forte, e conseguir renunciar, é atravessar o deserto sem água. É subir uma montanha escarpada e não olhar pra baixo. É ser colhido em alto-mar por uma tempestade do gênero do fim do mundo. Há que resistir como um estoico. O conflito abraça a atração e contamina, mascarando a verdadeira situação, tornando a renúncia um ato heroico. 
Costuma-se associar renúncia ao abandono, a jogar a toalha. Porém, renúncia também significa abandonar a sua onipotência em pensar que pode resolver todos os conflitos em suas mais variadas formas possessivas de se viver. Pois a vida consiste de múltiplas escolhas para exercer o seu livre-arbítrio e optar. Optar para sair do círculo em que se encontra encerrado e abrir mão do que julga ser seu. Com o que não se conforma. A opção se transformar em renúncia. 
Um parto, a minha renúncia. Se não for um carma.

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Antonio Carlos Gaio
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