Dentro dessa horda de musicais biográficos que tornam o Rio de Janeiro, ainda mais no maior arraso, o estupendo diretor João Fonseca consegue arrancar de Emilio Dantas igual performance que alcançou com Tiago Abravanel em “Tim Maia – Vale tudo, o musical”. Emilio Dantas, de 23 anos, reproduz o gestual de Cazuza à perfeição e canta no mesmo tom e voz do ídolo, o que lhe exigiu apenas 45 dias para se preparar e encarnar Cazuza em sua meteórica carreira, finalizada aos 32 anos, através de 31 músicas. “Cazuza, o musical” arrebenta pela qualidade do canto dos 16 atores em cena e com as letras de Cazuza, que nos remetem ao choro nostálgico. Com o Rio de Janeiro tomado pela polêmica de se precisa ou não de autorização biográfica, as letras de músicas refletem que fazem “parte do meu show” (de seus autores) e demonstram, sem deixar dúvida, a trajetória sofrida do espírito alegre de Cazuza no curso de sua própria vida, como uma biografia que o próprio cantor foi revelando e que não precisa de autorização biográfica. As letras são um livro aberto. Para que tanta polêmica se tudo acaba em letra de música? Se é tanta bandeira em que o artista desvela o que pensa, o que ama, com que brinca, pra quem dá e o que é de verdade. Exagerado ou não, seja maior abandonado ou não, perdido, sem pai nem mãe que dê jeito. Cazuza nasceu como ídolo em “Pro dia nascer feliz” com o Barão Vermelho (Thiago Machado, de voz idêntica à do Frejat) e com o suporte vigoroso de Ezequiel Neves, em interpretação magnífica de André Dias, procurando uma ideologia para se viver, que brotou num hospital de Boston, já com Aids, totalmente ciente da “vida louca, vida breve”.
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