Ninguém mais se espanta se alteramos a data de nascimento para nos transformarmos em gatos – ou melhor, gatinhos. Todo mundo acha comum puxar um gato do poste para poder ver TV em casa e diminuir a conta de luz – sem temer o curto-circuito. Sonegar imposto é um risco calculado, se cair na malha, paga-se ou recorre-se à magnânima Justiça, cujo transcurso de demora alivia a tensão do contribuinte. Daí ser normal anistiar as multas de trânsito e adulterar placas, pior era comprar carteira de motorista. Pois que engavete e avarie o carro de quem está parado no sinal vermelho, fuja com os faróis apagados, procure ser o “sombra” de algum figurão. Colar no exame é recurso lícito se você não for pego. Assina a lista de presença pra mim porque hoje eu tenho de levar minha mãe ao médico. É bem mais barato comprar na “Robauto”.
Tráfico de bacalhau no Galeão. Um vôo fretado, procedente do Porto, aterrissou com forte cheiro de bacalhau. 40 quilos para ser mais exato. Distribuídos por 280 passageiros, que o repassariam para seres estranhos que dariam um bom destino a essas secas e salgadas criaturas, ao lado de presuntos e lingüiças de porco trazidos por espanhóis e angolanos. Vírus que causam epidemias e infecções: mas a comida é para presentear parentes, assim como as flores amenizam as dores dos enfermos nos quartos de hospitais, ó burocrata insensibilidade. E por aí vai a sanidade que regula a mente de turistas e visitantes.
Em função da tiborna instalada no país, nada mais chique que se inicie um jantar molhando o pãozinho num azeite de alecrim, enquanto um ladrão de calcinhas é flagrado no pacato distrito de Nova Altamira, de 20 mil habitantes, município de Faxinal, a 340 quilômetros de Curitiba, com 3 peças no bolso e outras 153 cuidadosamente organizadas no armário. O lavrador Wanderley varava noite a dentro atrás de peças íntimas em varais e tanques da cidade. Apenas para dar um clima nos sonho eróticos com as vizinhas, fixando a fantasia na velha tanga, a preferida, e se enfurnando no costume mais antigo do mundo. As vítimas lesadas não quiseram fazer o reconhecimento das peças roubadas, optando pela incineração do constrangimento e vergonha. Registre-se que esse Wanderley nascera assim, não adulterara a grafia do seu nome, estrangeirizando o v pelo w e o i pelo y, como só e acontece em Luxemburgo.
A mais nova modalidade de roubo no Brasil revolve a esposa de Wanderley, que repete Nicéa Pitta, Carola Scarpa, Renata de Luxemburgo, e põe lenha na fogueira: “Ele gostava de vestir calcinha, mas nunca imaginei que a tara fosse tão séria”.
Sua filha de 4 anos já testemunha a expansão do paraíso das calcinhas, onde o vermelho e a renda empurram a bunda, ao requebro das ondas, a nortear o rumo de nosso desejo, fácil, voraz, exibido, e que sempre entrega o ouro ao bandido, porque gostamos além da conta, à cata da satisfação farta, que esvazia o cérebro. A era da 100% popozuda, letreiro gravado nas bundas de calças que afiançam a qualidade do produto, desfaz o amor ferido e levanta o orgulho de quem descobriu que a vida passa rápido, quando vai se ver, não se fez nem metade do que lhe caberia.
A era da 100% popozuda imprensa o eleitor entre a cruz e a caldeirinha, plasmado entre o mendigo urinando em frente à portaria de seu prédio e a propaganda eleitoral que tira o coelho da cartola: terceirizar o recolhimento dos mendigos, fixado um preço razoável pela captura, a saudável concorrência seria disputada a tapa.