As viúvas da ditadura ainda saúdam 1964 como o ano do jubileu do movimento civil e militar que frustrou o golpe comunista, tornando evidente o ódio que nutrem pelos atuais detentores do poder com suas investidas na Comissão da Verdade contra a imagem e o legado dos governos militares e de seus presidentes, aí incluídos os nomes de obras públicas. As viúvas ainda sonham em adquirir maior vulto e eloquência para expulsar seus inimigos no poder, não se conformando com a democracia ora presente, que julgam ter chegado ao fundo do poço com as mesmas promessas demagógicas e corrupção dos anos 60, sem contar o excesso de atenção ao povo que ganha no entorno de dois salários mínimos. Cospem até na mídia que as traiu com falsos arrependimentos e etéreas desculpas, passados 50 anos, quando, lá atrás, se vendeu ao poder fardado para crescer e ficar mais rica com seu silêncio comprado – ninguém era ingênuo para acreditar em fidelidade recíproca.
As viúvas da ditadura embarcam até na canoa das manifestações (saúde, educação e segurança), para acrescentar o seu surrado discurso de desvirtuamento dos valores morais e cristãos e o fomento à luta de classes – originado no Bolsa Família e outros programas de inclusão. Invocam seu desespero de causa e seu extremado fervor à ordem e ao progresso, ansiando por uma intervenção militar e sua volta ao poder: “não há termos de comparação entre a segurança e a honestidade daquele passado de 64 com o desmando do presente e o desastre que nos aguarda no futuro! Um tempo em que lugar de bandido, terrorista e corrupto era a cadeia, o cemitério ou o exílio! Há que iniciar a correção do rumo e assegurar o encontro da luz em meio às trevas do emaranhado de falsos valores em que permitimos que nos metessem!”.
Um aniversário não para comemorar e sim para lembrar.
O deputado federal Rubens Paiva que, por duas vezes, foi enterrado e desenterrado, para depois seu corpo ser lançado ao mar, se a dúvida por parte dos carniceiros era enterrar, queimar ou dissolvê-lo no ácido.
O centro clandestino de tortura conhecido como a Casa da Morte de Petrópolis, cujo destino final de corpos massacrados pela tortura era o rio mais próximo, embalados em saco impermeável com pedras de peso calculado para não descer ao fundo ou flutuar, não sem antes extrair os dedos das mãos e as arcadas dentárias para evitar identificação ou cortar o ventre para impedir que o corpo inchasse e emergisse.
A morte da estilista Zuzu Angel.
O atentado à sede da OAB que matou a funcionária Lida Monteiro da Silva.
As bombas do Riocentro, previstas para explodir no palco e assassinar artistas que deploravam o regime, bem como cortar a energia e provocar pânico e correria nos cerca de 20 mil estudantes presentes ao espetáculo no Dia do Trabalhador.
E a Medalha do Pacificador, dada a militares que se distinguiram, entre outros, aos que se entregaram com devoção à tortura.