O tempo
é que nem cupim. Por onde anda, fulmina sem discriminar. Sejam árvores,
montanhas que envelhecem e provocam avalanches, icebergs e a água que degela.
Mata os animais e corrói os sentimentos e os homens. O vigor físico se vai
junto com o paladar, senão o interesse pelas coisas, como o desejo de viajar,
de comprar uma roupa nova, de rever velhos amigos. Até faltar a vontade de
viver. Implacável o tempo; não respeita nada e a ninguém. Quem consegue
se resguardar do passar do tempo? Se não somos felizes agora é por conta do
nosso tempo que ainda não chegou. Se não fomos felizes antes foi porque julgamos
que dia haveria de chegar no qual teríamos mais dinheiro e encontraríamos o
verdadeiro amor, com filhos crescendo na medida em que o tempo mostraria sua cara
e a exata noção da felicidade. Se isso não aconteceu, a culpa é de quem? Apenas
do tempo, se dele nada escapa! Posto que, se você é muito feliz, o tempo voa.
Se à espera que sobrevenha um acontecimento fortuito, o tempo meio que
estaciona. É como se o tempo sempre estivesse contra nós. Mas não seja
impaciente com o tempo, pois ele também é amigo. Nada como o tempo para curar
uma grande dor, embora queiramos um tratamento de choque, rápido e rasteiro.
Pois sim! Não dá para perceber como ele está operando nossas consciências.
Quando o que importa é que um dia você despertará e descobrirá que nasceu para
ser feliz, com uma súbita vontade de abrir a janela e voar, voar, voar. Só
depois irá saber que foi o tempo que o salvou. Baseado no tempo que passou e não
volta mais. De quando tinha 20, 30 anos, e se achava infeliz.
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