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A DITADURA DO AMAR

O homem fogoso e cheio de vida reflete sobre si mesmo: por mais que ame cada parceira, é sempre insuficiente para satisfazer sua capacidade de amar.
Sendo assim, ele desfalece e cai em si, mas não abre para ninguém. Se contar o seu segredo, o que irão pensar de sua potência, de seus feitos, senão proezas, na construção de uma odisseia? Se não mais é um harém, é um acumular de esposas ou companheiras que se tornam insuficientes face à sua capacidade de amar vir se esgotando com o desgaste cotidiano, a cada vez, e com rara facilidade. E quando o nó não se desfaz, deseja que caia do Céu uma solução mágica. Até mesmo prefere que ela o traia e se desconecte de sua órbita, para se livrar daquele fardo.
Sobrevém a agonia ao constatar que não se vincula a nenhuma mulher se não consegue ficar com vivalma. De que adianta alardear que tem amor para dar e vender e que seu tesão não sofre apagão, se a mulher que ele procura não é idealizada e se materializa no instante em que a conhece e vislumbra um sem número de potencialidades. Sem se deter se é factível de se realizar essa expectativa. Se não for, é mais um motivo para se separar! Não ia dar certo mesmo!
Até perder a crença no amor, porém, sem abandoná-lo de vez. Mas, também, não mais depositando sua expectativa em alguém que o transformará. Não mais se sujeitando à ditadura do amar. Afinal de contas, pode-se perfeitamente amar e pegar leve, surfando na onda do prazer e do que existir de afinidades, sem maiores dramas e frustrações.
À ditadura do amar, ele contrapõe com a liberdade de movimentos, com a liberdade de expressão para não calar o que pensa só para contradizê-lo, com seguidas tentativas de invadi-lo para roubar sua mente, com a necessidade dela querer ajustá-lo às suas perspectivas, ao invés de dar um passo de cada vez sem precipitar um grande amanhã – com medo de dar com os burros n’água.
Como não vê democracia no cotidiano de um casal no exercício do amor, até pelo fato do amor não aplacar as diferenças que vão surgindo, assim acredita, só resta a inexorabilidade da ditadura do amar para ser feliz.
Antonio Carlos Gaio:
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