Na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) / 2011, o escritor francês Emmanuel Carrère discorreu sobre a vertente da literatura, cada vez mais presente, baseada em histórias a respeito da família do próprio escritor, como a do colaboracionismo de seu avô com o nazismo, que irritou sua mãe historiadora e integrante da Academia Francesa a tal ponto que pediu para não publicar enquanto ela fosse viva. O risco de se escrever sobre uma realidade de 70 anos atrás é o mesmo de se quebrar o sigilo de documentos históricos que comprometam a honorabilidade do país na evolução da História. Atrai a ira dos que se julgam donos da verdade dos fatos. Quando o conflito é de versões, prevalecendo aquela sagrada pelo distanciamento histórico. Ou permanecendo a dúvida entre opções igualmente fortes. No entanto, a mãe de Carrère se sentiu ofendida por ver deslustrado o seu brilhante currículo acadêmico. Daí o narrador ficar exposto às vicissitudes dos personagens na vida real, que se interpõem na tentativa de censurar sob o pretexto de não terem sido consultados quanto à gênese de seu caráter e personalidade descritos na ficção. Hoje, mais do que nunca, a ficção não consegue acompanhar o que é real, tamanho o absurdo surrealista a que chegou a realidade. De modo a evidenciar que a realidade comporta mais de uma verdade, dependendo de como cada um encara e compreende. Ainda mais se o autor permite ser atravessado pelo sagrado e inspirado a se dirigir ao âmago da natureza das coisas, onde tudo é natural e não existe o sobrenatural, como mensagens espíritas de meu pai, psicografadas por Chico Xavier, que adensaram e deram consistência à história da vida de minha irmã, precocemente falecida, no meu livro “Regina”, a ser lançado em 20 de julho próximo.