A data correta de fundação da cidade do Rio de Janeiro deveria ter sido mantida em 20 de janeiro de 1567, quando as tropas de Estácio de Sá subjugaram os tamoios e os franceses, em definitivo, em batalha que ficou marcada por Estácio de Sá não resistir ao ferimento provocado por uma flecha envenenada no rosto. Tal como o fim de São Sebastião, o padroeiro da cidade do Rio de Janeiro que, como capitão da guarda pretoriana do imperador em 286 d.C., demonstrava uma conduta branda para com os prisioneiros cristãos, levando o imperador a sumariamente executá-lo por meio de flechas, que se tornaram símbolo constante em sua iconografia. Portanto, são conteúdos históricos e religiosos que amalgamam ambos os personagens da História, cujo 20 de janeiro como data do aniversário do Rio de Janeiro prevaleceu no período colonial e imperial, sendo mantido pela República como o único feriado religioso e que marcava a posse da Câmara recém-eleita. Aí vem o governador Carlos Lacerda (1960-1965), invejando São Paulo por ter comemorado os seus 400 anos em 1954, e resolve antecipar os festejos do IV Centenário como vitrine para sua candidatura à presidência da República, depois de ter aberto caminho ao apoiar o golpe militar de 1964, de modo a se investir como ditador eleito pelos militares. Lacerda fez valer a data de 1º de março de 1565, quando o mesmo Estácio de Sá expulsou Villegaignon, impedindo que os franceses aqui fundassem a França Antártica – baseado numa carta do padre José de Anchieta, carta essa que só chegou ao conhecimento público no século XX. Posteriormente, Carlos Lacerda viu seus sonhos ruírem, castigado por São Sebastião, que é o sincretismo de Oxossi, o grande Orixá comumente representado nas florestas caçando com seu arco e flecha. Cassado pelo regime militar, Lacerda morreu de infarto no miocárdio dez anos depois – flechado no coração.
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