Comentário de um branco supremacista brasileiro: “o que se conclui, a partir da temática recorrente das escolas de samba em geral, com raras exceções, é que o Carnaval se tornou uma festa de negros, feita para negros! Aos brancos, resta ouvirem calados que somos gente ruim e má. O Carnaval brasileiro tornou-se um evento africanizado, racista e segregativo”. A história que a História ainda conta continua a ser pautada pela cultura do esquecimento, do engavetamento e da dissimulação, por queimar todos os documentos e provas que poderiam contribuir para que os negros brasileiros pudessem identificar suas origens na África, assim como igualmente fizeram para encobrir as torturas e execuções levadas a efeito na ditadura militar nos anos 1960 e 1970, e não se descobrir os autores dos assassinatos. Afinal, quem perdeu contato com suas raízes não tem para onde voltar, e o passado se torna uma vaga lembrança. Se soubessem como seus ancestrais diretos foram submetidos à barbárie, talvez reagissem se sublevando. Afinal de contas, o massacre se expressou através do não reconhecimento de direitos, nas estratégias de imobilismo social, na simulação de um contingente populacional mulato ou pardo para embranquecer o negro, na indução à prostituição das escravas africanas. Não é por outra razão que a vitória da Mangueira na disputa pela melhor escola de samba no maior Carnaval do mundo se deveu precipuamente ao enredo, cujo título não vai para a galeria da fama: “A História (verdadeira) que a história (oficial) ainda não conta”. A verde e rosa levou para a Avenida de Sapucaí um enredo que recontou a História do Brasil por meio de heróis da resistência negros e índios. Enaltecendo a vereadora carioca Marielle, assassinada por milicianos cujos tentáculos se estendem à família mafiosa dos bolsonaros, que logo lembraram de criar uma nova frente ideológica, a Escola de Samba sem Partido. Enquanto o carnavalesco Leandro Vieira, responsável pelo desfile da Mangueira, defende que ditadura cultural é impor a supremacia das versões históricas em que índios, negros e pobres ocupam lugares subalternos e acabam não alcançando o protagonismo que nos daria o entendimento de fato do país que somos. É sempre bom lembrar que o Carnaval nasceu no seio da população extremamente pobre, em redutos recém-saídos da escravidão, reprimido no início e depois aceito pela elite e burguesia, que tentou se apropriar de seus valores, faturando no prestígio que a manifestação popular conquistava a cada ano.
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