X

A LIÇÃO

A Lição

Creio que nunca baixou no Brasil um filme búlgaro. Como estreia, não podia ter sido melhor. Um grande e surpreendente filme, principalmente pela temática inédita, muito valorizada pela atuação de Margita Gosheva que, ao transformar numa fixação descobrir quem roubou uma carteira dentro de sua sala de aula, evidenciou logo numa professora a necessidade de buscar um culpado, julgá-lo e puni-lo. A partir daí, parecendo um castigo em função de sua rigidez moral, começou a se envolver em situações que fugiram ao seu controle, mas que seriam condenáveis a seu juízo. Atropelada pelos rumos com que a vida costuma nos assaltar e nos fazer cair em contradição, nos deixando sem alternativa para negar o que sempre defendemos. Nem quando precisou de seu pai em situação extremamente aflitiva, seu juízo moral rasteiro e preconceituoso a respeito dele arrefeceu. Até ter que se decidir por abandonar seus padrões morais e ofensivos à sua natureza numa parábola da vida contemporânea, que se assemelha muito ao que estamos passando no Brasil, onde uma pretensa maioria ruidosa se põe a julgar o tempo todo as atitudes alheias, acreditando-se munida de mais honestidade do que os outros e de maior senso de justiça, sem se preocupar em esconder uma certa crueldade com aqueles que, se pudesse, tirava de circulação – essa seria a lição que gostariam de dar.

Antonio Carlos Gaio:
Related Post

Este site usa cookies.