A CRÍTICA DA CRÍTICA
Com a direção da espanhola Isabel Coixet, a trama se passa numa pequena cidade da Inglaterra de 1959, mas que bem podia ser no século XIX, ou até mesmo no Brasil golpista de hoje, pois a tese é: a sociedade é podre! E capaz de dispor de todos os ardis sujos e golpes abaixo do ventre apenas para derrubar uma livraria numa cidade onde o vento faz a curva. Só porque representava ares de maior progresso intelectual extremamente perigoso para as mentes estreitas que detinham o poder na comunidade. E que nada mais queriam do que continuar nos mesmos padrões para manter a ascendência de sempre, ou até vantagens que só aviltariam um ser humano minimamente digno. Coixet pintou um quadro aterrador no filme, baseado no romance de Penelope Fitzgerald, que custa a crer ser verdadeiro pois, em consequência, nos leva a perder a esperança na humanidade. Quando a dona da livraria queria apenas vender bons livros de modo a não só veicular a renovação da mentalidade inerente à compulsão e ritmo da literatura, como temas que não ficam datados em livros que jamais morrem ou perdem seu interesse, por vezes constituindo um grande mistério por inexoravelmente vencerem o tempo a despeito de críticas corrosivas. É esse espectro que os conservadores tanto temem na arte, não raro empregando estratégias medievais para sufocar o sopro egresso dos espíritos que bafejam a inspiração e criatividade literária. Como o filme intencionalmente custa a engrenar, a crítica não se deixa enredar pelo seu mecanismo antissistema e mais uma vez se engana, já que aplausos pontuaram na sessão em que eu fui.