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A MÁGOA DE NÃO SER OUVIDO

Como controlar os ímpetos de rancor que se elevam à ira, quando não lidamos bem com uma situação? Por mais que apenas pensemos e não ajamos? Por desgosto ou mesmo pura aversão àquela pessoa que nos irrita, com tamanha hipocrisia, perfeitamente encaixada em sua personalidade, de tal forma que não distinguimos mais se é uma raposa ou ser humano. Ou quando nos enerva uma situação que não muda e nos deixa impotentes com ganas de ir embora para sempre, por não sermos ouvidos, ou simplesmente ignorados.
A indiferença provoca e promove a reatividade, que não necessariamente liga o disjuntor do tom duro e violento. Mas cria um clima propício aos papéis de dominador ou submisso, carrasco ou vítima, sedutor ou dependente, vencedor ou perdedor, superior ou inferior, em paz com Deus ou revoltado. Diante de uma frustração, pomos para fora o que nos levou à repulsa e exibimos o que somos. O que o verniz social não pôde maquiar e sustentar.
Não se pode ter tudo o que se deseja. À dificuldade em aceitar a frustração, sobrevém o espírito agressivo, quando não violento, alimentado pelo orgulho ferido, o egoísmo exagerado, a impaciência desmedida, a incapacidade de se autocontrolar. O ser viola as boas regras de conviver com o próximo e age como se o outro lhe pertencesse, de corpo e alma.
Todas as virtudes e vícios são inerentes ao Espírito. Onde mais debitar a conta de nossos atos pelos quais somos responsáveis? Só queremos mérito e reconhecimento, porém, se formos chicoteados por sofrimentos que não estancam, logo nos indagamos: que fiz eu para merecer tamanho infortúnio? Se a dor é uma bênção que Deus colocou em nosso caminho para nos pôr à prova e verificar se resistimos ou não. Para observar se realmente estamos convictos a respeito do que pretendemos pôr em prática no cumprimento de nossa missão ou se já entregamos os pontos.
Desde que nascemos, apresentamos traços e características que, por vezes, são dissonantes de nossa formação, seja familiar ou cultural, e que irão forjar nossa trajetória, como reflexo de nossas aspirações. Traços únicos e exclusivos que podem não ser entendidos por aqueles que nos cercam e que evidenciam nossas tendências. Para onde vamos com nossas ideias e vontade de alcançar nossos alvos. Segundo nosso caráter, que dá a feição desejada desde a tenra infância e que será reforçada ou inibida em contato com os espíritos encarnados nessa sociedade, dependendo da competição acirrar os ânimos e desencadear paixões, impulsos e fraquezas, podendo gerar condicionamentos agressivos em reação à necessidade de preservar o que vem construindo ao longo de sua vida.
No lugar de abrir seu coração e mergulhar num aprendizado sem confrontação, dor ou culpa. Livre do medo de ser espezinhado por mostrar-se frágil e pacífico, destituindo a figura de forte e duro na queda, para não prolongar a existência de um eu que impossibilita uma relação mais fraterna.

Antonio Carlos Gaio:
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