A mentira é inerente ao ser humano. Faz parte de sua essência. Consciente ou inconsciente, quem poderá afirmar?
Contudo, a mentira se manifesta de diversas maneiras: no piscar compulsivo, desviar o olhar para baixo ou pros lados, morder os lábios, coçar o nariz, mexer na orelha.
O somatório dessas e de outras reações básicas pode se correlacionar a seis tipos de emoção: alegria, surpresa, raiva, nojo, tristeza e medo.
Charles Darwin assegurou que as expressões que denunciam nossas emoções são universais, independentes de etnia, cultura ou credo. Ou seja, as expressões instintivas básicas são as mesmas para o gênero humano.
Como o cérebro é razão e consciência e não lida bem com a negação da verdade, por ser limitado e não aceitar ambiguidades, jogo duplo ou mesmo falsidade, de princípio ou por princípios, conclui-se que ele envia sinais para evidenciar que discorda do que você está verbalizando – por vezes, veementemente!
Funciona como entrada e dar bandeira no instante em que percebe você a mentir, reagindo instintivamente com impulsos do gênero tique-tique nervoso. Por exemplo: o banalizado “tudo bem”, quando não está nada bem e a coisa está preta.
Quanto às mentiras sociais, necessárias para evitar verdades que constranjam e para as quais nem sempre estamos preparados, ajudando a acomodar situações embaraçosas que, de outra forma, não permitiriam a convivência, vamos nos condicionando, ao longo do tempo, a um processo de lavagem cerebral e engolindo sapos, de tal modo que desativa o circuito de alguns sinais instintivos e os direciona para o arquivo morto. Ou seja, você está incorporando a mentira ao seu patrimônio.
Todavia, nem sempre o olho humano consegue detectar a mentira se acusando nessas microexpressões faciais que duram décimos de segundos e que revelam o que realmente está se passando na mente da pessoa, abrindo o caminho para a verdade. É uma pena pois, em havendo contradições flagrantes entre o discurso e as microexpressões que transfiguram o rosto, é possível avaliar se a declaração de amor reflete hesitação, falta de coragem, incômodo e dúvida. No lugar de satisfação, prazer e alegria.
Desviar o assunto ou amenizar o ocorrido é sinal claro de mentira. Sem contar o ar de enfado, da impaciência, da intolerância e do desprezo emprestado ao tema. O arsenal da mentira guarda mil e um recursos para driblar a verdade, que está sempre a correr atrás do prejuízo para tentar estabelecer a justiça dos fatos.
Talvez porque a verdade seja amadurecida e acabe se impondo com o tempo, relegando a mentira à análise impiedosa (por ser criteriosa) que se costuma fazer do passado, expondo ao ridículo certos personagens com que a mentira traçou seu perfil e vestiu seu figurino – a restabelecer a justiça dos fatos.
A verdade enxerga na ode à glória de sua trajetória a comemoração vazia, porquanto o legado da mentira dificultar no esclarecimento dos fatos e sabotar nossa evolução. A mentira é o atraso e o conservadorismo; a verdade, o caminho da luz.
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