Na véspera da Páscoa, a afilhada acorda sobressaltada e resolve telefonar para sua madrinha, de 97 anos, que mora em outro estado. A mesma que a criou e cimentou as bases de sua formação moral. A madrinha fica contente, mas não consegue falar. A afilhada lhe dirige palavras de amor e do seu reconhecimento por abrir seus horizontes e moldar-lhe um caráter oposto à degradação de valores hoje em curso. A madrinha alarga o sorriso e morre. Apenas aguardava o telefonema de sua cria para se despedir. Na verdade, quem telefonou foi a madrinha que, na passagem para o Plano Espiritual, preveniu-a de que iria partir e propiciou um adeus de derreter o coração. Ao longo de suas trajetórias, ambas fizeram um bem danado uma à outra e a morte não representou o fim do caminho. Se restaram saudades e a interrupção da materialidade do amor, não jazerão no espírito o que cada uma cedeu e o que tinham de melhor. Motivo de sobra para fortalecer a consciência e não ficar inconformada com a morte. Circunscritos ao nosso livre-arbítrio, que já é de bom tamanho para se desincumbir da vida.
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