Sem vislumbrar o que será de sua vida futura, se a porta irá abrir-se para o nada ou se para a entrada de uma morada de felicidade e de paz, cujo valor maior consiste na libertação do jugo de expiações de quando era encarnado, o homem acaba se deixando levar pelos pensamentos na vida terrena tal como uma criança age ao não vir outra coisa senão os seus brinquedos. Os únicos bens que, para ela, têm serventia, cuja perda resultaria num frustração irreparável, e que pode evoluir, em fase adulta, para um doloroso desgosto, uma ambição não satisfeita, orgulho ferido, encorpando tormentos que elevam seu nível de angústia e bem podem se comparar a uma verdadeira sessão de torturas. Por tudo assumir aos seus olhos uma enorme proporção.
Na morte violenta por suplício, suicídio ou acidente, os laços com a Terra são rompidos bruscamente e o Espírito, surpreendido, fica como que aturdido com a mudança nele efetuado, não achando explicação para a sua situação. Podendo gerar a convicção de não estar morto e essa ilusão perdurar por muitos meses, senão anos, se locomovendo nesse estado como se ainda estivesse encarnado, atônito por não lhe responderem quando fala, e procurando manter seus hábitos, mesmo se tentam abrir seus olhos.
Essa ilusão também se observa em indivíduos que se recusam a aceitar a morte, lá chegando no Plano Espiritual, por achá-la assustadora e privá-los do desfrute material, apegados a uma realidade terraplanista, não se dando conta de que são criaturas frágeis e transitórias que deveriam primar por mais tolerância e menos ódio, por uma calma de espírito que suavizasse a amargura.
Assim sendo, a importância atribuída aos bens terrenos está sempre na razão inversa da fé na vida futura, segundo Allan Kardec.