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A PELE QUE HABITO

A Pele Que Habito

O filme é produto de uma mente louca. O genial Almodóvar conseguiu romper barreiras e chegou ao nível de tirar conceitos e preconceitos do inconsciente para pô-los a serviço de uma trama no filme. Almodóvar não para de avançar e, nem por isso, deixa de sofrer a mesma campanha de perseguição que Woody Allen enfrenta. Querem mantê-los atados ao estilo antigo de fazer filme. Quando “A pele que habito” é lúgubre, tenso, inquietador e à frente do tempo que vivemos. O enredo traz no seu bojo elementos modernos como a reconstrução do ser humano através da pele, mas, de fato, Almodóvar assassina a heterossexualidade, se não a humilha. Sem que o hétero no contexto do filme tenha trazido qualquer colaboração para merecer tamanha vingança. Acontece que o homem traído, sob a pressão da síndrome do pau pequeno, pode perfeitamente se converter num homofóbico com especial aversão a garanhões que conquistam, desdenham as mulheres, quando não as estupram. Na melhor das intenções de extirpar o mal pela raiz, o homem tanto faz, tanto faz, que estrebucha, entrega os pontos e acaba parecendo gay, sem efetivamente ser e sem o saber. É tanta possessividade rondando, que gera o ata-me e o consequente impulso ao estupro, elemento constante dos filmes de Almodóvar, tanto quanto a transexualidade, a concluir que não tem jeito do hétero não vir a se converter em gay – pois quanto mais os bolsonaros da vida esbravejam, mais viados ficam. Arrola, até para reforçar a tese, a Bahia de Caetano, Zeca, meu nome é Gal, o Carnaval e tigrinhos, de modo a participarem da universalidade da linguagem almodovariana, que há muito tempo deixou de ser exclusiva dos gays e vem ganhando novos adeptos, por simplesmente calar fundo na alma de todos graças à sua inteligência e sensibilidade sem fronteiras, emasculando o reacionarismo.

Antonio Carlos Gaio:
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