A vida da jornalista Rose Leonel virou um inferno quando ela teve suas fotos, exibindo sua nudez, publicadas em 7 milhões de sites pornôs pelo mundo. Seu ex-namorado disparou 15 mil e-mails com as imagens para os moradores de Maringá, no Paraná. Aos 44 anos, ela perdeu o emprego de colunista social na cidade, passou a ser humilhada toda vez que saía de casa, teve depressão, e seu filho mais velho, à época com 11 anos, teve que trocar de escola diversas vezes, antes de, por fim, mudar-se para os Estados Unidos por não aguentar mais o bullying dos colegas.
Seu telefone não parava de tocar porque o ex-namorado também tinha divulgado suas informações pessoais na rede. Homens do Brasil inteiro ligaram propondo programas ou tão somente para ridicularizá-la. Abriu-se um buraco diante de seus pés, e ela foi sugada nele desaparecendo. Precisou mandar seu filho para fora do país de modo a ele ter alguma chance de crescer de forma saudável.
A sociedade vilaniza a vítima, e não o criminoso. Rose colocou na sua cabeça que não iria ser punida ao tentarem enquadrá-la como vítima. Oito anos após o atentado contra sua vida particular, ela criou a ONG Marias da internet, ajudando mulheres que foram vítimas da pornografia de vingança. Tendo vivido na pele o problema, ela sabe que é impossível apagar as marcas do crime virtual. Todavia, ao expor sua experiência pessoal, busca confortar as moças apavoradas com a possibilidade de arruinarem suas vidas privadas.
Não existe dinheiro que pague os danos que Rose Leonel sofreu. Esse crime deveria ser considerado hediondo porque rouba a vida da pessoa: a identidade, os amigos, a autoestima, a saúde psicológica, a carreira, a vida amorosa. Embora o crime tenha ocorrido no mundo virtual, bem que deveria equivaler a um assassinato real, pois ela ainda sofre perseguição e preconceito todos os dias.
Quando imagens íntimas de homens caem na rede, eles não são demitidos de seus empregos ou humilhados. Pelo contrário, passam a ser valorizados pela sua virilidade. A sociedade só condena as mulheres. Quando não participam, além de vítimas, da pornografia de vingança, mesmo que passivamente, ao receber imagens de outra mulher aviltada. Muitas julgam, dizendo que jamais se prestariam a esse papel. Sem captar que quem colocou a vítima naquela situação foi o ex-companheiro.
O homem, quando nesse papel de o pornógrafo da vingança, é que merece ser punido.
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