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A PRISÃO DE CAETANO VELOSO NA DITADURA MILITAR

Importante revelação histórica no filme “Narciso em férias”, documentário de Renato Terra e Ricardo Calil, em cartaz no Globoplay, aumentando o foco nas memórias do tempo em que Caetano Veloso ficou preso logo após o AI-5, entre dezembro de 68 e ferreiro de 69. Foi acusado junto com Gilberto Gil de profanar o Hino Nacional no show que fizeram em setembro de 68 na boate Sucata. Fruto de uma denúncia partida de Randal Juliano, apresentador da TV Record – quem? -, acostumado a implicar com Caetano nos bastidores dos festivais da época, ao não ver sentido na letra de “Alegria alegria”.
Restrinjamo-nos ao interrogatório de Caetano Veloso por um milico que morreu sepultado em anonimato, ao perguntar se ele sabia cantar o Hino Nacional com a melodia da Tropicália. Impossível porque os versos do Hino são decassílabos e a sua música continha oito sílabas poéticas. Típica resposta do mais inteligente e intelectualizado, sem contar o elevado nível artístico, em contraste com um major do Exército tosco e tapado, que não tem a menor familiaridade com a arte, somente com aulas de Moral e Cívica.
Ao ouvir a negativa do “crime” da Sucata, e sentindo-se rebaixado ao cocô do cavalo do bandido, o major replicou: “Mas você é ingênuo ou acha que pode nos fazer de bobos?”. Felizmente Caetano e Gil não foram torturados fisicamente, mas humilhados pela arrogância da ditadura militar, sob a ameaça velada de poderem ser executados a qualquer momento. A dupla acabou obrigada a se exilar na Europa, eufemismo de expulsão do país.
Ao seu retorno e fazendo jus à vingança artística, Caetano passou a cantar o Hino Nacional em seus shows, numa roupagem muito mais bonita e poética do que a gritada em tom marcial, com ênfase no trecho subversivo “Se o sol da liberdade em raios fúlgidos brilhou no céu da pátria neste instante”. Seguido de “Irene (ri)”, sobre a saudade do riso de sua irmã mais nova, composta na prisão.
Menos mal que essa mentalidade retrógrada, ainda presente na História do Brasil, não tenha podido sustar a incorporação da arte dos negros e marginalizados à cultura oficial brasileira através do samba. Quando acabaram de conquistar o compositor branco.

Antonio Carlos Gaio:
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