A Ucrânia resolveu cortar definitivamente as ligações com o passado soviético proibindo o uso de símbolos do comunismo e punindo os infratores com até dez anos de prisão, rebatizando 25 cidades e 1.500 ruas, o que deu margem a uma febre nacional para apagar por completo as marcas da História, removendo centenas de estátuas de Lenin e de outros líderes da era soviética de seus pedestais. Imagens e objetos serão permitidos apenas em museus se acompanhados de textos de esclarecimento sobre o “caráter criminoso” do comunismo. Hoje, acabar com a identidade do comunismo é para a Ucrânia tão importante quanto foi a desnazificação para a Alemanha depois da Segunda Guerra, iniciada por ordem dos aliados vencedores. Só que Adolf Hitler cultivava mais a arquitetura de Albert Speer do que os clássicos monumentos e, graças à arte nazista inspirada no império romano, preservou-se grandiosos projetos da arquitetura nazista como o aeroporto de Tempelhof e o estádio olímpico de Berlim. Igualmente após a queda do muro de Berlim, espraiou-se um ativismo de destruir tudo o que estava relacionado com o comunismo da Alemanha Oriental, como a estátua de Lenin de 19 metros de altura, desmembrada em 119 partes e enterrada em Berlim – ato posteriormente revertido colando-se os pedacinhos, até por Lenin ter uma forte ligação com a capital alemã e exaltá-la por onde passou com sua fama de um dos maiores inimigos do capitalismo. Não será combatendo os símbolos do passado comunista que a Ucrânia vai alcançar a unidade nacional. Ao contrário, torna a situação no Leste separatista mais explosiva. A destruição dos testemunhos de uma era, seja qual for a ideologia, equivale a um crime cultural do tope que o Estado Islâmico está cometendo na Síria e no Iraque, a merecer reprovação do mundo inteiro. Já brincar de faz de conta que o comunismo nunca existiu, decapitando estátuas de Lenin ou implodindo Stalin em mármore, na impossibilidade de eliminá-los das páginas da História da Humanidade, implica na confissão que o comunismo jamais brincou em serviço, nem ficou somente na teoria ou na mera fantasia, tanto que as forças conservadoras no Brasil, espertas e oportunistas, preferem usá-lo como se ainda existisse e forjá-lo como inimigo público nº 1, na falta de um discurso melhor e de um programa partidário que a ele se oponha, que não o da liberdade de expressão, encampado pelos barões da mídia.