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A VERDADE, POR MAIS DOLOROSA QUE SEJA

No golpe de 1976, a ditadura militar argentina premeditadamente mudou a identidade de crianças nascidas em cativeiro ou sequestradas com seus pais, militantes de esquerda perseguidos, dos quais o regime acabara por tirar sua vida. Ditadores como Videla e Bignone entregaram recém-nascidos, bebês e crianças aos mesmos carniceiros que torturaram e assassinaram seus pais, para que os criassem e lhes dessem uma vida decente no seio de sua família.
Nem bem nasceram e já instrumento de ódio de uma camarilha instalada no poder, inspirada na violência e crueza da ditadura franquista, fiel ainda às melhores tradições do colonialismo espanhol, justamente para se opor ao stalinismo e seus métodos brutais na caça frenética aos comunistas, em nome da democracia e dos poderes legalmente constituídos para eliminar toda e qualquer oposição ao regime, que nunca sentiu culpa de usar a inocência infantil como objeto de vingança torpe contra os que ousavam desafiá-los.
Em busca dos netos, as Avós da Praça de Maio localizaram nas últimas três décadas jovens já adultos, e agora na casa dos 30 anos de idade, que tiraram sangue para comparar seu DNA com as amostras deixadas pelas famílias dos desaparecidos num banco genético montado em Buenos Aires.
Porém, há quem resista em conhecer suas verdadeiras origens. O caso mais espantoso concerne aos filhos da dona do grupo Clarín, que inclui desde o jornal mais lido do país até canais de rádio e de TV, aberta e a cabo. Marcela e Felipe não querem ser usados para atacar sua mãe, a mulher mais poderosa da Argentina. Adotados no suspeito ano de 1976, correm o risco de colocá-la na cadeia se a Justiça provar que Dona Ernestina adotou-os sabendo que tinham sido roubados. Realizada uma batida em sua casa, os peritos não conseguiram recolher material genético de escova de dente e outros objetos pessoais – enxugaram todo e qualquer sinal de saliva.
Alguns filhos de desaparecidos anseiam em saber quem são. Outros fogem como o diabo da cruz para não destruir a família que consideram sua. Muitos almejam um futuro em que não haja ódio do mundo e sede de vingança para seus filhos, à medida que eles se inteiram do passado guerrilheiro de seus avós, que culminou no extermínio de uma geração idealista e libertária quanto aos valores podres que corroem a sociedade.
Os futuros herdeiros do jornal “Clarín” se encontram no seguinte dilema: manter-se unidos em torno da família, preservando os laços que permitiram ser o que são hoje ou estarão impedidos de exercer a profissão de jornalismo por temer encarar a verdade.
Para sermos livres, temos de conhecer a verdade, por mais dolorosa que seja.

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Antonio Carlos Gaio
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