Ele não nasceu com o buzanfã para a lua, não está com essa bola toda e se sua mãe ainda acredita nele, é lucro. Pois o pascácio exige que ela seja linda, gostosa, inteligente, bem de vida e resolvida. Linda porque não admite despertar senão diante da beleza. Gostosa para dar vazão ao que as mulheres reclamam a respeito de dor, incômodo e desconforto. Inteligente para acompanhar a sua linha de raciocínio. Bem de vida para não pretender beliscar fatias de seu padrão de consumo que o restrinjam. Resolvida para nem em pensamento escorregar em algum nível de dependência e discutir a relação, almejando redirecioná-la.
Não se considera um egoísta, apenas se preserva, necessitando de um salvo-conduto para se manter afastado de relações afetivas que o deteriorem. Costuma, com ar de desdém, qualificar a si mesmo de exigente. Fazer o quê, se ainda não encontrou a mulher certa para ele?
Descer ao abismo de Pascal, onde se debaterá entre problemas que concernem à satisfação de bens e prazeres deste mundo. Buscando a elucidação do seu enigma de diga-me com quem andas e eu te direi quem és. Quem sofreu na carne foi o matemático francês, traumatizado pelo acidente que causava a impressão de se ver sempre diante de um abismo aberto para tragá-lo. O que o levou a concentrar suas energias intelectuais nos valores cristãos, baseado na rejeição dos valores mundanos.
Renunciando a conhecimentos como o grão de areia de Pascal. Se não fosse aquela areiazinha, que não valia nada em outro lugar, se introduzindo na uretra de Cromwell, ele teria destruído toda a cristandade, desaparecido com a monarquia inglesa e sua família se tornado poderosa como nunca um rei houvera sido.Se pequenos detalhes podem restabelecer a realeza, por que não calcular a probabilidade e medir a incerteza para associar um grau de confiança razoável nos relacionamentos que o aguardam? As probabilidades fornecem conceitos e métodos para interpretar previsões baseadas na incerteza, facilitando a tomada de decisões e desencalhando hesitações. Atormentado pela sua máxima “o coração tem razões que a própria razão desconhece” e através de análises combinatórias, Pascal chegou ao seu triângulo. Consistia em determinar, para qualquer jogo de azar envolvendo muitos parceiros, o que iria retornar a cada um se a relação fosse interrompida.
Todavia, o abismo de Pascal, o medo do homem ser tragado na relação e perder sua identidade para a mulher que não pára de se desenvolver e se agigantar, o remete à angústia de outro triângulo. O triângulo das Bermudas.
A partir de 1945, misteriosos desaparecimentos de navios e aviões passaram a ocorrer entre o litoral da Flórida e Bermudas. Com o avanço da tecnologia, graças à 2ª Guerra Mundial, pensou-se que os alienígenas se animaram e procuravam fazer contato, sugando-nos através de naves espaciais. Como preparativo para ingressar numa era sem precedentes, principiando por romper com as convenções de espaço e tempo.
O homem começaria por sofrer anomalias magnéticas que prenunciam o choque térmico que o faria levitar e escapar da coerção do triângulo amoroso – um polígono maior. Libertar-se do que é linear, de permanecer na superfície das coisas ou restrito a seu espaço, de ter como plano de referência o horizonte. O que puder enxergar. Quando o que ele precisa é sentir. E não consegue. Parecendo sob ação de anestésico, uma amnésia que apaga, paulatinamente, as informações que levaram a essa débâcle irreversível. Que dá vontade de os homens perguntarem o que fizeram de tão errado, ao perderem sua latitude – sua faculdade de se autogovernar na liberdade.
Não foi a matemática de Pascal que tirou as chances do homem. O que o empurrou para o abismo foi sempre pensar em si, voltado para o seu progresso, projeção e reafirmação. O restante dos vagões a reboque de seu projeto. Não seria o triângulo que o impediria de dar o salto mortal no trapézio e alcançar o Céu.