Ah, é mais um filme do Almodóvar! Não existe um filme normal do Almodóvar. Todos surpreendem. “Abraços” são filmes dentro do filme, histórias que se entrelaçam a contar como somos cegos diante do amor rasgado. Possessivos a ponto de usarmos leitura labial para controlar o que o outro sente e não pode dizer para você. A visão singular e inigualável de Almodóvar sempre a desvelar quem a gente ama de verdade; a quem nos vendemos e nos prostituímos; a quem entregamos nossa própria consciência. Desmascara os homens velhos e ricos que se casam e se julgam poderosos e eternos, transformando suas jovens esposas em prostitutas a seu serviço. As mulheres feias e vigorosas que arrancam o que podem da vida para alcançar um naco da felicidade, em contraste com outros que são aquinhoados com o sucesso. Almodóvar trabalha com os sentimentos mais baixos do ser humano, que se vinga quando não obtém a posse do objeto amado. Almodóvar cala a plateia do cinema que sai atônita, em voo rasante, cega e surda, em direção às mediocridades que demolem o amor romântico que cultuamos e não conseguimos praticar. Almodóvar avança no que tem de mais populacho na nossa alma, sem dó nem piedade, sequer discriminando no seu mister de procurar juntar os cacos da vida, compondo fotos rasgadas em mil pedaços, quando perdemos alguém muito querido.
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